Borges rende peça em desequilíbrio

É um alívio quando as inquietações do artista produzem uma obra embasada como As Tramóias de José na Cidade Labiríntica, nova estreia do grupo Obragem, que também inaugura seu espaço no bairro São Francisco. O trabalho, iniciado em janeiro do ano passado, reflete um pouco do que o casal Olga Nenevê e Eduardo Giacomini considera necessário dizer hoje, e foi construído sobre fundamentos de Cervantes, Dante, Borges, Homero, Oswald de Andrade e a Bíblia.

"Se devia fazer um solo, era para falar do que me interessa: que o homem olha demais para si mesmo, e esquece de olhar ao redor", contou Eduardo, em conversa com a reportagem após ensaio.

Com texto que lembra O Imortal, de Borges, a peça está centralizada em um homem errante, José, que aos poucos desfia suas desventuras e pensamentos, como "estou triste, porque as coisas não melhoraram neste mundo mau."

Em cena estão também projeções do artista e uma plataforma móvel, sobre a qual o personagem se equilibra. O objeto metálico, quando movido, produz sons bem-vindos, que acabaram entrando para a trilha sonora com o uso de distorções e delays manipulados ao vivo por Fernando de Proença.

"A cada apresentação o resultado pode ser diferente", aponta Eduardo. O texto é de Olga, que prolongou o projeto da peça quando descobriu que estava grávida.

Aniversário

Com o apoio da Funarte e da lei de incentivo municipal, o grupo ainda pretende promover neste ano comemorativo à sua primeira década de atividades um encontro sobre crítica teatral, uma jam session com a musicista Edith de Camargo, que assina a trilha do espetáculo, e um novo estudo baseado na peça Amor Fou, criada pelo grupo em 2005.

Depois, o espaço próprio que hoje conta 20 lugares deve ser reformado para duplicar a capacidade.