Bossa inglesa-brasileira

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Não é de hoje a paixão que o compositor e guitarrista inglês Andy Summers, célebre pelo seu trabalho com o trio The Police, sente pela bossa nova. Em United Kingdom of Ipanema, documentário/show de Summers com o músico e compositor Roberto Menescal, um dos fundadores do movimento, ele conta que se deparou com música brasileira pela primeira vez aos 16 anos, quando assistiu a produção franco-ítalo-brasileira Orfeu Negro (1959), cuja trilha sonora foi trabalho de Tom Jobim e Luís Bonfá. Desde então, vasculha todo o tipo de música que nasce no país. Foi na gravação deste DVD com Menescal (em 2009), que ele conheceu a cantora Fernanda Takai (Pato Fu), quando o brasileiro entregou a ele o disco Onde Brilhem os Olhos Seus, em que ela interpreta canções de Nara Leão. Enfeitiçado pelo trabalho, o guitarrista convidou Fernanda para ser sua parceira – e a voz principal – de Fundamental, que acaba de ser lançado no Brasil.

O disco traz 11 faixas inéditas compostas por Andy Summers, que misturam pop, rock, jazz e blues, mas que têm como base principal a bossa nova. As canções são todas interpretadas por Fernanda (Andy é apenas a segunda voz em poucas músicas), que se surpreendeu com o convite. "Na época em que ele conheceu meu trabalho, achou que eu era uma cantora moderna, mas tinha um quê de bossa nova, e disse para fazermos algo juntos. Achei que ia cantar duas músicas, participar de algum show. Mas ele queria fazer um disco inteiro. Em setembro do ano passado, Andy me mandou 25 músicas, e eu escolhi 11. Fomos acertando tudo por e-mail e telefone até a gravação, no começo desse ano", contou a cantora em entrevista por telefone à Gazeta do Povo.

Fundamental foi gravado e mixado no estúdio de Summers, em Los Angeles, e conta ainda com a contribuição do percussionista Marcos Suzano, o que confere um acento ainda mais brasileiro ao trabalho, que tem cinco canções em português, todas versões feitas por Fernanda em parceria com Zélia Duncan, e com o músico, produtor musical, e também marido da cantora, John Ulhoa. "Chamei a Zélia porque ela tem muita experiência em fazer versões, e eu e o John escrevemos muito juntos. Uma coisa que o Andy me pediu foi manter a história original das músicas, que falam muito sobre amor, perda e separação. Fizemos de tudo para deixar em um português que transmitisse imagens bonitas", disse. O disco será lançado ainda no Japão, França e Estados Unidos, e tem uma versão totalmente em inglês, que provavelmente deve ser a escolhida pelo mercado norte-americano.

Apesar do "DNA bossa nova", Fernanda Takai faz questão de salientar que o disco conta um pouco da trajetória de cada um dos artistas, ela no Pato Fu e ele no The Police. "A gente nem saberia fazer um disco puramente de bossa nova, pincelamos essa influência, mas do nosso jeito", falou a cantora, que frisou, ainda, estar "muito mais para a bossa do que para o rock", talvez por conta do tom suave da sua voz. Seu gosto musical, e, por consequência, suas referências, entretanto, são diversas: vão desde os ingleses do The Smiths e The Cure até Clara Nunes e Gilberto Gil. "Só isso aí já dá um balaio enorme."

Estilo

Pop internacional ou MPB? Nem Fernanda Takai – que fará uma turnê curta pelo Brasil com Andy Summers para divulgar o disco a partir de outubro, e no ano que vem em outros países – sabe a resposta. "O disco é muito sui generis. Geralmente, encontros geram gravações com um repertório consagrado, e já super garantido. A gente não tem nada garantido, tem músicas novas de artistas que são de países diferentes. Não tem um mercado segmentado ou uma prateleira específica para o disco. É uma proposta difícil até, mas gosto dessa confusão e desse questionamento. É apenas música, e espero que boa."