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Pierre Boulez é o grande nome da música clássica hoje. Por um lado, é o sucessor natural dos revolucionários do início do século 20, como Schoenberg e Webern. Por outro, aos 81 anos, é um mito que vem influenciando várias gerações de novos compositores. No entanto, sua música raramente é tocada em terras brasileiras. Especialmente por dois motivos. Primeiro, costuma ser difícil de ser interpretada e muitas vezes os músicos não estão à altura da tarefa. Depois, porque música erudita contemporânea tem menos público do que as obras tradicionais do repertório. E as orquestras e regentes preferem apostar no certo do que tentar alguma inovação.

Mas uma boa notícia para quem quer conhecer a música moderna é que hoje é dia de Boulez em Curitiba. O Quarteto Pa-risii, formado por músicos franceses, chega à cidade para a série dos Concertos BankBoston trazendo na bagagem uma das obras mais complexas do compositor, o Livro para Quarteto. Os trechos da partitura que serão apresentados abrem um panorama da música francesa, incluindo também peças de Debussy e de Darius Milhaud. Para fechar o programa, como não poderia deixar de ser, uma homenagem aos 250 anos de Mozart. Junto com o clarinetista Romain Guyot, os franceses tocam o Quinteto para Clarinete e Cordas em Lá Maior.

Quando Boulez compôs o Livro para Quarteto, ainda era um jovem músico, com menos de 30 anos. Fascinado pelas experiências dos serialistas, que haviam acabado de vez com o monopólio do sistema tonal na música, ele escrevia peças dificílimas, quase impossíveis de se tocar. "O próprio Boulez achava que o quarteto era inexeqüível, tanto é que, poucos anos depois da publicação do original, fez um arranjo para uma orquestra de cordas, que achava mais viável", conta o maestro Osvaldo Colarusso, um fã convicto da obra de Boulez. A vantagem da orquestra sobre o quarteto é a presença de um maestro, para organizar a profusão de notas escritas.

Durante muitos anos, a peça – escrita originalmente em 1952 – assustou os quartetos. Só recentemente, o Parisii decidiu enfrentar a tarefa. Entraram em contato com Boulez, que não acreditou que eles estivessem mesmo tocando a peça. No entanto, o compositor foi assistir a um ensaio e se convenceu de que tinham conseguido. "É muito bom ter essa obra aqui, já que é o único quarteto escrito por Boulez", afirma Colarusso.

Para o compositor mineiro Harry Crowl, radicado em Curitiba desde os anos 90, as obras da fase "mais radical" de Boulez, nos anos 50 e 60, que culminariam com o "serialismo integral", formam um legado importante para a música. "Ele ajudou a mostrar que nem tudo é possível", comenta. "Mais tarde, inclusive por ter se tornado regente, Boulez se preocupou em fazer música mais viável", afirma.

Crowl diz que a iniciativa do quarteto de incluir uma obra de Milhaud no programa também é importante. O compositor, que veio ao Brasil como adido cultural, escreveu a peça escolhida para o repertório de hoje em terras tupiniquins. "Eles gravaram a integral dos quartetos de Milhaud e o trabalho mostra que são músicos sérios, respeitáveis", afirma.

Serviço: Quarteto Parisii e Romain Guyot. Guairinha (R. XV de Novembro, s/n.º), (41) 3315-0979. Hoje, às 20h30. Ingressos a R$ 36 e R$ 24 (clientes BankBoston).

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