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Santiago, de Moreira Salles, foi selecionado para o Festival do Documentário de Amsterdã: homenagem à produção brasileira | Divulgação
Santiago, de Moreira Salles, foi selecionado para o Festival do Documentário de Amsterdã: homenagem à produção brasileira| Foto: Divulgação

A realidade brasileira desembarcou ontem na Holanda com uma comitiva que inclui índios, um festival da canção, um mordomo, um ônibus, um ex-presidente, meninos em situação de risco, um andarilho, muito jogo de cena e a certeza de que os documentários do país podem fazer sucesso no mundo. Principal evento do gênero, que vai de hoje até 27 de novembro, o Festival Internacional do Documentário de Amsterdã (IDFA, na sigla em inglês) homenageia, em sua 24.ª edição, o cinema brasileiro, com uma seleção de 19 filmes, além de uma retrospectiva dedicada a Eduardo Coutinho. É um reconhecimento a uma produção que cresceu absurdamente na última década, mas cujo grande problema ainda é ser pouco vista pelo público.

A mostra Cinema do Brasil no IDFA vai privilegiar filmes realizados nos últimos 15 anos. A razão é compreensível. Em 2000, de acordo com a Agência Nacional de Cinema, somente dois documentários brasileiros chegaram às salas. Em 2008, foram 25. Em 2009, 38. Assim, foram selecionados para o festival holandês obras como Ônibus 174 (José Padilha, 2002), Santiago (João Moreira Salles, 2007), Juízo (Maria Augusta Ramos, 2008), Corumbiara (Vincent Carelli, 2009), Andarilho (Cao Guimarães, 2006), Cidadão Boilesen (Chaim Litewski, 2009), 33 (Kiko Goifman, 2002), Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos (Marcelo Masagão, 1998) e Uma Noite em 67 (Renato Terra e Ricardo Calil, 2010).

"O IDFA tem acompanhado de perto o desenvolvimento do documentário brasileiro", diz Ally Derks, diretora do festival. "A programação da mostra Cinema do Brasil reflete o espírito do gênero em seus vários estilos e temas. A produção contemporânea mostra que os cineastas não têm medo de experimentações, como em 33 e Andarilho, mas ao mesmo tempo indicam que sempre haverá espaço para temas sociais e políticos de relevância, como em Cidadão Boilesen e Corumbiara.

Ally acredita, ainda, que o público brasileiro vai aos poucos se abrir para a produção documental, da mesma forma como tem ocorrido em outros países. "O documentário tem vivido um bom momento. Há filmes nos principais festivais do mundo e também no topo das bilheterias, como é o caso do sucesso de The Cave of Forgotten Dreams (de Werner Herzog). O público finalmente descobriu que o documentário é um gênero muito mais rico do que os programas de reportagens da tevê", afirma a diretora do IDFA. "Na América Latina, esse processo está levando mais tempo, mas é possível ver melhorias. Muitas redes estão programando documentários em suas grades. E festivais, como o brasileiro É Tudo Verdade, são fundamentais para dar ao documentário o lugar de destaque que ele merece."

Números

Esse lugar de destaque, porém, ainda está longe do ideal no Brasil. Segundo dados do portal de análise de mercado Filme B, 44 documentários de várias nacionalidades foram lançados nos cinemas brasileiros em 2010, atraindo 858 mil espectadores. No mesmo período, chegaram às salas apenas 13 filmes de animação, mas com uma bilheteria incrivelmente maior: 19,5 milhões de pessoas. Dos 16 gêneros que estão no ranking do Filme B, o documentário ganha apenas dos musicais (três filmes em 2010 e 388 mil espectadores), dos relançamentos (dois filmes e 260 mil) e das obras de guerra (dois filmes e 247 mil).

Um dos poucos sucessos do gênero no país, Uma Noite em 67 fez 81 mil espectadores em 2010, tornando-se o documentário brasileiro mais assistido nos últimos cinco anos. O filme, que retrata o III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, realizado em 1967, chegará a Amsterdã apoiado pela penetração internacional da MPB e já despertou interesse de uma rede de TV francesa.

"Fico bastante feliz com o peso que o IDFA está dando ao documentário brasileiro, principalmente pelos filmes do Coutinho. É mais um reconhecimento de que ele criou obras que expandem as possibilidades do documentário. Seus filmes contribuem para ampliar a linguagem, os limites do gênero", diz Renato Terra.

Em Amsterdã, o cinema documental brasileiro será tema de um debate na próxima segunda-feira, com mediação de Amir Labaki, diretor do É Tudo Verdade, e com a presença de Coutinho. O cineasta brasileiro, hoje com 78 anos, embarcou para o festival, onde também estará na competição oficial, com seu último filme, As Canções. Além desse, serão exibidos pela retrospectiva em sua homenagem os longas Santo Forte (1999), Edifício Master (2002), Peões (2004) e Jogo de Cena (2007).

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