Evelin, de 13 anos, engravidou do namorado que acabou de deixar o tráfico na Rocinha, onde vivem. Luana, de 15 anos, cuida das quatro irmãs mais novas. Quando descobriu a gravidez, nem pensou em aborto, pois já alimentava a idéia de um bebê "só seu". Edilene, de 14 anos, e Joice, de 15, mal entraram na adolescência e já estão às voltas com os problemas de um triângulo amoroso. Elas ficaram grávidas ao mesmo tempo de Alex.

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Ao longo de um ano e meio, a diretora Sandra Werneck acompanhou a rotina de quatro meninas cariocas que vivem problemas comuns a outras milhares de adolescentes grávidas. O resultado é o documentário Meninas (2005), uma retomada da cineasta ao gênero após um período de dedicação bem-sucedida à ficção.

Seu último longa-metragem, Cazuza – O Tempo não Pára, que co-dirigiu com Walter Carvalho, foi sucesso de bilheteria em 2004. Antes, vieram Amores Possíveis (1991) e Pequeno Dicionário Amoroso (1996). Mas, a diretora ganhou visibilidade com documentários de caráter social como Pena Prisão (1984), Damas da Noite (1987), Profissão Criança (1993) e o premiado A Guerra dos Meninos (1991).

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Meninas segue a mesma linha e surpreende pela delicadeza com que trata o tema da gravidez na adolescência. Na fase de pesquisa, Sandra e a co-diretora Gisela Camara embrenharam-se pelo país em busca de personagens e acumularam mais de 120 entrevistas. Diante de histórias muito semelhantes, optaram por concentrar as filmagens no Rio de Janeiro, onde seria mais fácil manter o contato permanente que passariam a ter com as adolescentes.

Mas, isso não significa que elas reduziram seus personagens a meros exemplos sociológicos. "Gosto de pensar Meninas como um filme não sobre a gravidez adolescente, mas sobre quatro adolescentes que ficaram grávidas", diz Gisela em entrevista ao site da produtora Cine Luz. Este é, aliás, seu grande mérito. Seus criadores não falam pelos personagens. Deixam que as próprias meninas revelem o que pensam, como vivem, suas dificuldades, seus sonhos e, assim, não só o espectador, mas elas próprias, vão compreendendo os porquês da gravidez não planejada.

Envergonhadas no início, as meninas vão ficando mais à vontade. Contribuiu, para isso, o posicionamento das câmeras em locais inusitados, o que em parte se deve à competente direção de fotografia de Fred Rocha e Heloísa Passos, que acaba de ser premiada no Festival de Sundance pela fotografia de Manda Bala, do americano Jason Kohn.

Em um ano e meio de filmagens, pouco acontece. Com a proximidade dos partos, as atividades das meninas ficam cada vez mais reduzidas, já que elas decidem deixar a escola e passam a maior parte do tempo em casa. No início, isso foi uma preocupação para a diretora, mas logo ela percebeu que o tempo de espera, oco em sua aparência, era justamente o que ampliava os significados de seu filme. GGG1/2