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Bruce Myers protagoniza a peça O Grande Inquisidor, de Peter Brook, no Porto Alegre em Cena | Tristam Kentom / Divulgação Poa Em Cena
Bruce Myers protagoniza a peça O Grande Inquisidor, de Peter Brook, no Porto Alegre em Cena| Foto: Tristam Kentom / Divulgação Poa Em Cena

Porto Alegre - O calendário cultural de Porto Alegre se agita com dois grandes eventos durante o mês de setembro: a festa popular da Semana Farroupilha, celebrando a história local, e o Porto Alegre em Cena, festival internacional de teatro que comemora sua 15ª edição, iniciada dia 2 de setembro, com a presença maciça de espetáculos de países do Mercosul, como La Noche Canta sus Canciones, do diretor argentino Daniel Veronesi, e atrações vindas de rincões distantes, como uma montagem lituana de Fausto, de Goethe.

Na extensa grade de programação do Poa Em Cena, que se desenrola até 22 de setembro, um dos trabalhos estrangeiros que sobressai é O Grande Inquisidor, a segunda montagem do diretor inglês (radicado na França) Peter Brook a passar por palcos nacionais este ano, depois de Fragments, uma composição com peças curtas de Samuel Beckett, ter estreado no Festival Internacional de Teatro de Londrina.

Inabalável

Adaptado por Marie Hélène Estienne, braço direito do encenador, a partir do capítulo homônimo do livro Os Irmãos Karamazov, de Fiodór Dostoievski, O Grande Inquisidor propõe o confronto entre um imóvel, mudo e inabalável Jesus Cristo e o homem-forte da Inquisição, resoluto em criticar e julgar o filho de Deus, na Espanha do século 15.

Ator gaúcho

Fiel à atual concepção de teatro do diretor, em que o simples dá o tom, o encontro acontece sobre uma plataforma quadrada e branca, igualmente iluminada, onde nada há mais que dois bancos. Basta para o ator inglês Bruce Myers – há quatro décadas envolvido no Centro Internacional de Pesquisa Teatral, comandado por Brook – construir seus personagens, ao mesmo tempo Inquisidor e narrador, com técnica precisa e intensa carga emocional, concentrado na palavra, na força do discurso, diante do ator gaúcho Ismael Caneppele, escolhido entre 29 candidatos a participar da encenação como Cristo.

As acusações do Inquisidor culpam Cristo pela angústia humana, concebida como uma conseqüência do livre-arbítrio, ou seja, da incerteza proveniente da necessidade de escolha diante do bem e do mal, uma tarefa além das forças humanas. Como reparo ao equívoco cristão, o Inquisidor oferece à humanidade a obediência, que a tolhe da liberdade original, mas a faz, em contrapartida, sentir-se mais livre.

A única resposta de Cristo, impassível frente a uma sentença de morte, é levantar-se ao fim para selar o encontro unindo seus lábios aos do inquisidor, em um beijo seco e curto. Ao que o narrador encerra: "O inquisidor estremece, seu coração queima. Mas ele persiste na idéia".

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