Sacha Bali interpreta Bukowski dos 2 aos 19 anos| Foto: Divulgação

Por menos provável que pareça, o personagem ao centro da imagem abaixo é Henry Chinaski, o alter-ego adolescente de Charles Bukowski, protagonista do romance Misto Quente (1982), de inspiração autobiográfica.

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O ator Sacha Bali não compartilha o biotipo do garoto outsider descrito na ficção, cujo rosto foi deformado pelas espinhas, assim como a montagem Pão com Mortadela não intenciona recriar o universo marginal de angústias e bebedeiras do escritor americano, de origem alemã.

"Na verdade, eu quis trazer um Bokowski de onde ele veio. O clima marginal é o que ele resultou. A gente tenta mostrar por quê", explica o diretor José Fonseca, sobre o espetáculo que cumpre temporada de sexta-feira (28) a domingo (30) no Teatro da Caixa.

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"O que surpreende um pouco em Pão com Mortadela é que o espectador encontra a infância de uma criança como qualquer outra, uma família pobre, o pai violento, a mãe omissa. Isso traz uma identificação muito grande da platéia com Bukowski, porque todo mundo já foi, em algum momento, uma criança inadequada, hostilizada", diz Fonseca.

A convite do então estreante Sacha Bali (que mais tarde entraria para o elenco da novela Os Mutantes, no papel do vilão Metamorfo), o diretor se juntou ao ator para adaptar o livro Misto Quente, ao qual acrescentaram poemas e frases do escritor, colhidas de entrevistas. O espetáculo estreou em maio de 2007 no Sesc Copacabana, no Rio de Janeiro, viajou pelo estado pelo circuito Sesc e foi a Brasília, antes de chegar a Curitiba. Nesse trajeto, Fonseca foi indicado pela quinta vez ao prêmio Shell, na categoria de melhor direção.

Todo o elenco é composto de jovens atores saídos de uma oficina de interpretação que o encenador ministrou na capital carioca. "Um dos grandes trunfos da montagem são cinco atores se revezando em vários papéis (à exceção de Sacha). A linguagem é a mesma que utilizei no espetáculo Escravas do Amor: narrativa e extremamente dinâmica e teatral. Os atores permanecem a maior parte do tempo em cena (onde se trocam ou assistem à ação), em um jogo com a platéia", descreve Fonseca.

Para o diretor, Pão com Mortadela é, afinal, um espetáculo sobre a formação de um artista. Nesse ponto, se assemelha ao trabalho anterior que o trouxe a Curitiba em abril, Um Certo Van Gogh, estrelado por Bruno Gagliasso – que, assim como Sacha, havia proposto o tema movido pela admiração pelo personagem.

"Em comum, eles têm essa paixão pela arte. Van Gogh e Bukowski são dois artistas marginalizados, que amargaram períodos de miséria e foram incompreendidos por muito tempo. Me interessa muito a vida desses artistas que, de certa forma, trouxeram à tona coisas novas, o preço que pagaram por isso, e como pensaram a arte".

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Serviço

Pão com Mortadela. Teatro da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Texto de Charles Bukowski. Direção de João Fonseca. Dias 28 e 29, às 21horas; e dia 30, às 19 horas. R$ 10 e R$ 5 (clientes, idosos e estudantes). Classificação indicativa: 16 anos.