Busca pelo tempo perdido

Em Antes da Coisa Toda Começar (confira o serviço completo), que estreia hoje dentro da Mostra 2011 do Festival de Curitiba, a premiada Cia. Armazém levará ao palco do Barracão Cietep uma imagem perturbadora: o espectro de um homem velho que sonha, a todo custo, viver de novo. Perdido em meio às ruínas do que teria sido um teatro, ele se debate, atado ao próprio passado, e começa a vasculhar gavetas há muito esquecidas, empoeiradas, com a ânsia de trazer de novo à vida as primeiras sensações que vivenciou.

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Paulo de Moraes, diretor do grupo que nasceu em Londrina, mas hoje está sediado no Rio de Janeiro, procura trazer à cena justamente a violência, o arrebatamento desses momentos fundadores, que ocorrem numa fase da vida em que muitos se julgam fortes, capazes de tudo e quase invencíveis.

Nessa tentativa de resgate algo patética, na qual o fantasma tenta, provavelmente em vão, preencher o infinito vazio que sente, surgem três personagens. Todos em crise, profundamente angustiados. São limítrofes e flertam com a morte.

Na peça, cuja dramaturgia é assinada por Moraes e Mauricio Arruda Mendonça, os caminhos desses seres, quase tão fantasmagóricos quanto o próprio velho, não se entrecruzam. Ca­­da um deles empreende idas e voltas no tempo. Um deles é uma cantora, que sobreviveu a uma tentativa de suicídio. O papel, que na temporada carioca da peça foi vivida por Simone Mazzer, atualmente na França, desde as apresentações em São Paulo é interpretado pela curitibana Rosana Stavis.

Em entrevista coletiva concedida ontem no Memorial de Curitiba, quartel-general do festival, Moraes diz que, embora criado para Simone, o papel está em excelentes mãos. "Conheço a Rosana há muitos anos e ela é uma excelente profissional. Ela foi muito elogiada em São Paulo, como a Simone havia sido no Rio. O público adora a atuação dela."

Os outros personagens de Antes da Coisa Toda Começar são tão complexos quanto a cantora. Uma é uma garota apaixonada pelo irmão e inconformada pela proibição desse amor. O terceiro é um artista que não tem confiança em seu talento.

Em princípio, não há nada que conecte essas histórias todas. Mas as aparências enganam: esses personagens nada mais são do que fragmentos do velho ator que surge em cena no início da montagem e representam desdobramentos de lembranças e experiências vividas.

Outro fio que costura essas narrativas independentes é a música. As canções, ainda que não se trate propriamente de um musical, têm função narrativa e os atores lançam-se ao rock and roll para se comunicar e se reconectar com o mundo.

Serviço:

Antes da Coisa Toda Começar (confira o serviço completo). Direção de Paulo Moraes. Com a Cia. Armazém.

Hoje e amanhã, às 21 horas, no Barracão do Cietep (Av. Comendador Franco, 1.341 – Jardim Botânico).

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