A morte do violonista paranaense Romano Nunes, o Cabelo, além da grande comoção causada no cenário musical da cidade, chamou a atenção por uma faceta indigesta que explica certa má fama do temperamento curitibano.
A morte inesperada por embolia pulmonar fez a cidade perceber que conviveu durante anos com um dos melhores instrumentistas do violão do país, sem dar valor a ele fora do restrito círculo da música local.
Um reconhecimento que, mesmo com sua personalidade discreta, Cabelo obteve em São Paulo, cidade em que trabalhou nas últimas duas décadas como músico e produtor de nomes importantes da música brasileira.
“Uma grande perda, um dos maiores instrumentistas de todos os tempos do Brasil e do mundo. Gente simples, mas com o gênio maior do universo por ter o dom divino. Morreu como viveu, sem muito alarde, meio na moita, como se estivesse tocando para si mesmo e para todos os anjos”, diz o amigo e poeta Thadeu Wojciechowski.
Nascido em Carlópolis e criado em Jacarezinho, Cabelo construiu a carreira em Curitiba. Exímio instrumentista, transitava entre diversos gêneros, do erudito ao rock, do choro à viola caipira. Nos anos 1970, era o guitarrista da banda Apaches que atuava ao vivo nos programas de tevê da época.
O guitarrista Walmor Góes foi cantor-mirim no musical Gurilândia, do Canal 12, e contou ter ficado “impressionado” com a técnica de Cabelo.
Mais tarde, explica Góes, “passei a vê-lo tocar no [bar] Bebedouro e no [bar] Si-bemol. Ele era um músico da noite. Foi mais ou menos nesta época que começamos a fazer música juntos na casa do Tatára, com outros músicos e poetas”, recorda.
“Ele é um símbolo de um tempo em que os bares e boates empregavam ótimos músicos e as pessoas saíam de casa para ouvi-los. Além de grande músico e arranjador, era um cara sempre sereno e bem-humorado.
Quando íamos tocar junto ele me dizia: bata as pontas dos dedos forte na parede que hoje a gente vai quebrar tudo”, diz Góes.
Em Curitiba, até a década de 1990, Cabelo foi parceiro de diversas músicos e cantores em shows e gravações em Curitiba. Antes, tinha sido sócio do parceiro e músico Tatára no bar Velha Adega.
Muito comovido, Tatára lembrou de forma lírica a trajetória ao lado do parceiro. “Me diga quem é que vai tocar violão comigo como você genialmente fazia? Diga quem vai autenticar as nossas divertidas histórias que faziam de você uma criança rindo, compulsivamente... Os sons que estão no vento balançando folhas das árvores, produzindo músicas para acalentar nossas almas?”, perguntou em texto publicado no Facebook.
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