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Respostas comentadas do simuladinho de Matemática |
Respostas comentadas do simuladinho de Matemática| Foto:

As histórias da vida de Guillermo Arriaga são tão extraordinárias – e ele é tão teatral ao contá-las – que fica difícil, impossível até, acreditar que aconteceram de fato. Em relação ao escritor mexicano, pode valer a máxima de John Ford. No caso de a lenda superar a vida, o diretor de Rastros de Ódio mandava ficar com a lenda.

Arriaga veio ao Brasil no início do mês para lançar o seu segundo livro, Um Doce Aroma de Morte, e participar da 5.ª Festa Literária Internacional de Parati (Flip), na qual terminou como "muso" do público feminino.

Ele se refere a si mesmo como "escritor de cinema" e abomina os termos "roteirista" e "guionista" (em espanhol). "Considero-os humilhantes. Não faço apenas mapas. Acredito de coração que estou fazendo literatura", diz. "Quem escreve teatro, nunca diz que não está fazendo literatura. Na verdade, há até um dramaturgo vencedor do prêmio Nobel", lembra, em referência ao italiano Dario Fo.

Depois de pôr um fim à parceria com o cineasta Alejandro González Iñárritu, graças a uma polêmica envolvendo a autoria dos filmes Babel, 21 Gramas e Amores Brutos, realizados pela dupla, Arriaga passou a defender a influência dos roteiristas (com o perdão da palavra) no cinema. Seu próximo passo será assumir a direção de um de seus textos. Até o final do ano, espera divulgar o nome do projeto e os atores envolvidos. Também em 2007, chega aos cinemas a adaptação de O Búfalo da Noite, seu primeiro romance, dirigido pelo venezuelano Jorge Hernandez Aldana e com Diego Luna (E Sua Mãe Também) no elenco.

"Para saber de quem é o filme, basta questionar de quem é o mundo que aparece na tela", explica. "Nos meus filmes, tudo o que aparece tem ligação com minha vida, minhas experiências, meu modo de ver as coisas."

Além da trilogia produzida com Iñárritu, Arriaga escreveu Os Três Enterros de Melquiades Estrada, estréia do ator Tommy Lee Jones atrás das câmeras. Suas histórias têm em comum a narrativa não-linear e o uso do acaso como um dos alicerces que sustentam a ação.

Um acidente de carro, um atropelamento e um quase-homicídio são eventos que aparecem para mostrar como as pessoas podem ter suas vidas influenciadas de modo definitivo umas pelas outras.

Na sua literatura, esses elementos também aparecem. "Eu sigo a tradição de escritores como Ernest Hemingway e procuro contar histórias por meio da ação dos personagens", diz.

Para ter contato com detalhes extraordinários de sua biografia, basta pedir para contar o episódio em que decidiu se tornar escritor. Arriaga lembra que vinha há algum tempo sentindo dores fortes no peito e no braço esquerdo. Achava que era hipocondríaco, mas decidiu ir ao médico.

Depois de vários exames, o doutor disse: "Tenho uma boa e uma má notícia. A boa é que você não é hipocondríaco. A má é que você tem uma inflamação em um músculo do coração". Nas suas palavras, se sobrevivesse às próximas 24 horas, estaria fora de risco. Mas aquela noite poderia ser fatal.

Enfrentando dores insuportáveis, "como se gatos mordessem e arranhassem meu braço" (e faz o gesto de um animal atacando), ele olhou para a sua mão e pensou que, logo, ela poderia ser o pedaço de um homem morto. Se sobrevivesse, precisaria fazer algo importante. Arriaga entendeu que teria de acariciar as pessoas que ama, esbofetear as que odeia e ser capaz de criar algo com as mãos. Foi assim que o professor de comunicação decidiu escrever.

Homem alto (tem 1,90 metro), calvo e bem-humorado, Arriaga acredita que os escritores – ele inclusive – vivem angustiados porque sabem que têm apenas um galão de tinta com que podem contar durante a vida toda.

"Todo escritor pensa que é uma fraude e que logo vai ser descoberto. Foi assim com Hemingway, foi assim Faulkner. A angústia de não escrever mais corroeu também Juan Rulfo", diz. "Hemingway meteu uma bala na cabeça porque viu que o que dava sentido à sua existência havia acabado."

Perguntado por que não se mudava para Los Angeles ou para outro lugar dos EUA, Arriaga respondeu que segue vivendo na Cidade do México porque somente ela pode lhe dar pequenas quantidades de tinta, retardando o fim do seu galão.

Porém, a angústia não acaba nunca.

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