O tempo é de apenas um minuto. A narrativa, se é que podemos falar de algo do gênero, em seu sentido tradicional, envolve ruídos, falas e confusões de linguagem. Tudo isso para discutir o tema silêncio. Essa experiência, chamada Ausência, é a essência do novo curta-metragem de Carlão Busato. "Não vou explicar o filme, porque não consigo fazer isso em outros meios que não a imagem para ele criada", diz o diretor do curta, publicitário, vocalista da banda Góticos 4 Fun. Ele está finalizando a produção nesta semana.
O projeto surgiu a partir do tema silêncio, proposto para a edição 2005 do Festival do Minuto (uma mostra competitiva internacional de filmes com apenas 60 segundos de duração). Em 2004, Busato já havia participado do evento com o curta A Bola da Vez, realizado em parceria com Marlon Klug, levando uma menção honrosa do júri e repercussão positiva entre o público. "Isso nos deu gás para fazer mais e este ano resolvi fazer algo sozinho. Na hora em que fiquei sabendo do tema, surgiu uma imagem que era uma metáfora do silêncio", explica Busato.
O filme foi captado em película com bitola 16 mm no dia 29 de julho, dentro do Lucca Café, no bairro Alto da Glória, em Curitiba. Agora está passando pelo processo de finalização, que inclui a aplicação de alguns efeitos especiais. "Estamos realizando a finalização com alto nível de computação gráfica. O grande barato que as pessoas ainda não descobriram da computação gráfica é como utilizá-la sem que fique perceptível", conta Busato. Um exemplo desse apuro técnico é o plano em que mostra o café do lado externo, aproxima-se da construção, até revelar seu interior. "É como se atravessasse um vidro. É um efeito que provavelmente não será notado porque está completamente integrado à narrativa", afirma o diretor.
Enredo
A história do curta gira em torno de um casal conversando, sentado à mesa de um café. Os dois personagens terão um diálogo confuso, cercado de ruídos progressivamente mais intensos de telefones celulares, máquinas de café, outros objetos e pessoas. Apenas alguns trechos de Hamlet "o maior retórico da história da literatura", segundo Busato serão identificáveis na fala dos personagens. "Vou conduzir a atenção do espectador para algum trecho daquele texto, já que não dá para entender muito bem o que o casal está discutindo. Vai acontecer uma virada visual que fará tudo ficar estranho e bizarro", descreve o cineasta, evitando revelar os pormenores da produção.
A situação também envolve a cultura dos cafés em Curitiba, que, segundo o diretor, cresceu consideravelmente nos últimos anos. Os debates intelectuais que freqüentemente permeiam esses espaços também estão retratados na encenação.
Influências
Ao dar um desfecho surrealista a uma narrativa que é predominantemente naturalista, o filme trabalha com "linhas narrativas pouco usuais". O cinema é hoje, para Busato, uma arte bastante permeada por soluções narrativas desgastadas. "Só há um tipo de história contada. Pouquíssimos diretores têm coragem de fugir da linearidade que sempre encerra os filmes com um desfecho lógico. Não há nada para instigar a imaginação das pessoas a outros níveis de percepção", afirma Busato. Referindo-se ao britânico Peter Greenaway, o curitibano afirma que os filmes constantemente se confundem com teatro filmado ou literatura filmada. "Hoje em dia estamos mais próximos de ter todas as ferramentas para o cinema se tornar uma arte absolutamente única como imagem. As pessoas precisam se desvencilhar desses formatos que foram herdados e encontrar uma identidade própria", explica.
O filme deverá estrear no Festival do Minuto, em setembro, e será transferido à bitola 35mm para receber retoques nos efeitos visuais e participar de outros festivais competitivos.
Créditos
Ficha técnica
Direção e roteiro: Carlão Busato.
Elenco: Sidy Correa e Fabíula Nascimento.
Fotografia: Russo Loyola.
Direção de arte: Tyta Zanelatto.
Produção executiva: Film Center.
Produção: Patrícia Castro e Bia Barros.
Casting: Paulo Letier.
Som direto: Marquinhos.
Sinopse
Em meio ao barulho da freguesia que os cerca, um homem e uma mulher conversam (ou tentam conversar). Seu diálogo impossível de ser completamente compreendido foi construído a partir de fragmentos do clássico shakespeariano Hamlet. Narrativa progride para um desenlace surreal e fantástico.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Deixe sua opinião