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São Paulo – Nem o mais alucinado ficcionista poderia imaginar que a esta altura da crise no mercado fonográfico, um disco de música instrumental brasileira chegasse ao topo da parada. Ainda mais de um músico estreante e pouco conhecido e com repertório de clássicos da MPB. Pois foi o que aconteceu na semana passada, segundo boletim divulgado pelo instituto de pesquisa Nopem. O CD mais vendido no período de 3 a 9 de agosto foi Jovem Brazilidade (Luar Music/ EMI) e o autor da façanha é o jovem saxofonista Caio Mesquita. Na história recente da música brasileira não há registro de feito parecido.

Em escala ampliada, Caio lembra outro prodígio do gênero: Charles Gonçalves. Apelidado Charles da Flauta, o garoto começou a tocar aos 10 anos e foi descoberto nos anos 80 numa rua do centro de São Paulo. Tinha então 14 anos e se tornou conhecido depois de lançar o disco de choro Pinguinho de Gente, contemplado com o Prêmio Sharp de Música de 1988.

Aos 16 anos, Caio é um fenômeno televisivo. Foi revelado em 2005 no popular Programa Raul Gil, que vai ao ar aos domingos pela Band. Ele começou acompanhando uma caloura e ganhou quadro fixo. Cada vez que ele aparece na tela o ibope sobe e chega a dar picos de audiência do programa. Com isso, desmente mais um mito: o de que números musicais afugentam o telespectador, desculpa muito propagada nos bastidores da televisão.

A popularidade de Caio cresceu tanto que o CD já era um dos mais pedidos à gravadora, antes mesmo de ficar pronto. Na semana passada, num pocket show numa loja da rede Fnac, Caio causou frisson, como vem ocorrendo entre o público jovem majoritariamente feminino. Para isso não precisou apelar para nenhum artifício comum aos ídolos de sua geração. Ao contrário, escolheu um repertório de qualidade e mais compatível com o gosto de pais e avós.

Entre as 13 faixas do CD, inteiramente instrumental, há dois hits de Djavan ("Flor de Lis "e "Lilás") e outro de João Bosco ("Papel Ma-chê"); standards da bossa nova assinados por Tom Jobim ("Wave" e "Garota de Ipanema"); dois sucessos da linha mais popular ("Sozinho", de Peninha, e "Sonhos de um Palhaço", de Sérgio Sá e Antônio Marcos, mais conhecido na voz de Vanusa); um marco de festival dos anos 60 ("Arrastão", de Vinicius de Moraes e Edu Lobo); a ancestral "Carinhoso" (Pixinguinha/João de Barro); outro clássico internacional ("Samba de Verão", de Marcos e Paulo Sérgio Valle) e até Ângela Ro Ro ("Amor, Meu Grande Amor"). Com isso, Caio deixou campeões de vendas como Ivete Sangalo, Bruno & Marrone, Marisa Monte, Daniel, Ana Carolina e Seu Jorge comendo poeira.

Adepto do padrão meloso de Kenny G e David Sanborn, Caio não comete nenhuma ousadia estilística ao tocar seus saxes alto e soprano. Incluiu batidas de funk e drum’n’bass, alternando com ritmos como samba e bolero, em suas versões das músicas. Começou a tocar sax com 11 anos, mas antes teve aulas de piano e aprendeu teoria musical.

Paulista de Santos, participava de quermesses quando uma cantora o viu tocar e propôs um dueto. Era Jaqueline Muller, que vinha se apresentando no programa de Raul Gil. Ela acabou eliminada numa etapa do concurso de calouros, mas ele ficou. Agora, montado no sucesso, vendeu 50 mil cópias do CD em um mês. Um feito inusitado para qualquer instrumentista brasileiro que rala, ou seja, a imensa maioria, se encher de cobiça. G

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