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Cais ou da Indiferença das Embarcações, drama épico do grupo paulista Velha Companhia que fez sua última sessão ontem, no Festival de Curitiba, se vale do imaginário ligado ao mar para ambientar uma história tão forte quanto delicada. Desde os versos de "Timoneiro", de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho – cantados em uma espécie de prelúdio que submete o destino de todos os personagens à sua onipotência – passando pela evocação de canções de Dorival Caymmi, este universo nutre de simbologia e fascínio a narrativa, que se passa quase toda em um cais.

Bem construída, a história é contada do ponto de vista de um velho barco, o Sargento Evilázio (vivido pelo veterano Walter Portela), que situa no tempo fragmentos de memória que percorrem três gerações de duas famílias da Ilha Grande, em Angra dos Reis, no século passado.

Esta não-linearidade engenhosa faz os 180 minutos da montagem, dividida em duas partes, passarem com leveza, embalados por uma iluminação intimista, uma bela trilha sonora executada ao vivo (um tanto prejudicada pela acústica do barracão do Fiep) e personagens encantadores, interpretados por um elenco afiado.

A peça valeu ao diretor Kiko Marques o Prêmio Shell de Teatro de São Paulo na categoria autor, semana passada. Ele escreveu o texto inspirado em suas próprias memórias da Ilha Grande, lugar que frequenta desde os 9 anos de idade. GGGG

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