O clima é europeu, os fotógrafos correm como loucos atrás das celebridades e um enorme tapete vermelho conduz os VIPs até a sala de projeção. O Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino bem que tenta se cercar de uma certa aura de glamour, mas não esconde sua condição de evento tipicamente brasileiro. A começar pela seleção dos filmes, irregular como o conjunto da produção nacional.
Ainda assim, trata-se do principal evento cinematográfico do país, que este ano chega à 33.ª edição. De hoje a sábado, o festival vai exibir 50 títulos, das mais variadas tendências e formatos. O destaques ficam por conta das mostras oficiais de longas e curta-metragens brasileiros, além da competição entre filmes latinos convidados (com produções da Argentina, Cuba, México, Chile e Portugal). Mas a programação não pára por aí, contando ainda com uma série de oficinas, debates, seminários, feiras e exibições paralelas como o Concurso Oficial de Curta e Média-Metragem em 16 mm, a Mostra Gaúcha e a Mostra de Animação.
Na Mostra Competitiva Nacional, as atenções estão voltadas para a disputa entre os seis longas selecionados (veja quadro). Dois deles têm alguma conexão paranaense: Gaijin Ama-me como Sou, de Tizuka Yamasaki, e Cafundó, primeiro trabalho de direção do ator Paulo Betti (ao lado do cenógrafo Clóvis Bueno). Ambos tiveram locações no estado, sendo que o segundo foi produzido por uma empresa local.
O Paraná ainda participa da festa com outros dois títulos. A animação Quando Jorge Foi à Guerra, de Tadao Miaqui, concorre pelo troféu Kikito na categoria de curta-metragem em película de 16 mm. Já o documentário Visita Íntima, da jornalista e diretora Joana Nin, entra na briga pelo prêmio de curta em 35 mm.
Como é de praxe, o o evento homenageia os grandes nomes da cinematografia brasileira. Este ano, o Troféu Eduardo Abelin será entregue ao cineasta Hector Babenco (Carandiru, O Beijo da Mulher Aranha), enquanto o casal de atores Tarcísio Meira e Glória Menezes receberá o Troféu Oscarito.
O Festival de Gramado surgiu entre 1969 e 1971, quando a tradicional Festa das Hortências, realizada na região da Serra Gaúcha, começou a exibir filmes nacionais em sua programação. A iniciativa logo chamou a atenção da classe cinematográfica, que se engajou em um movimento para oficializar a mostra com o apoio da Prefeitura Municipal, Companhia Jornalística Caldas Júnior, Embrafilme, Funarte e as secretarias de Turismo e Educação e Cultura do Rio Grande do Sul.
A primeira edição da festa, anteriormente conhecida como Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, aconteceu em janeiro de 1973, passando a se realizar todos os anos. Em plena ditadura militar, o evento se destacou pelos acalorados e polêmicos debates entre os participantes. Mas, já na aquela época, a disputa pelo troféu Kikito (o Deus da Alegria) era um tanto ofuscada pelo desfile de estrelas e novatos em busca da fama.
A mudança de nome para Festival de Gramado Cinema Brasileiro e Latino veio durante o governo de Fernando Collor de Mello, período de corte generalizado de incentivos ao setor. Pouquíssimos títulos nacionais eram lançados, o que obrigou a organização do evento a incluir produções de países hispânicos nas mostras competitivas.
Em meados dos anos 90, a chamada "retomada" do cinema brasileiro devolveu o fôlego ao festival, que reencontrou o público e voltou a atrair a mídia. Mas a boa fase está ameaçada outra vez, agora com a redução drástica das bilheterias de filmes nacionais. É chegada a hora de um novo debate.
Competição
Conheça os longas-metragens selecionados para a a Mostra Competitiva Nacional do 33.° Festival de Gramado Cinema Brasileiro e Latino:
Carreiras, de Domingos de Oliveira. Com Domingos de Oliveira, Priscilla Rozenbaum e Paulo Carvalho.
Diário de um Novo Mundo, de Paulo Nascimento. Com Edson Celulari, Marcos Paulo e Daniela Escobar.
Cafundó, de Paulo Betti e Clóvis Bueno. Com Lázaro Ramos, Leona Cavalli e Luís Mello.
Sal de Prata, de Carlos Gerbase. Com Maria Fernanda Cândido, Camila Pitanga e Marcos Breda.
Cerro do Jarau, de Beto Souza. Com Tarcísio Filho, Miguel Ramos e Lú Adams.
Gaijin Ama-me como Sou, de Tizuka Yamasaki. Com Jorge Perugorria, Louise Cardoso e Zezé Polessa.
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