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Em mais de três décadas de existência, a Camerata Antiqua de Curitiba poucas vezes teve um começo de ano tão promissor quanto este. A antiga Capela do Colégio Santa Maria, futura sede definitiva do grupo, que até hoje sempre viveu espremido em espaços emprestados, está em reformas e deve ficar pronta antes do fim do ano. Os dois instrumentos mais caros de que uma orquestra de música antiga precisa – um órgão positivo e um cravo – foram trocados. E uma grande empresa instalada na cidade decidiu patrocinar a temporada de concertos do ano todo.

A patrocinadora da orquestra será a montadora sueca Volvo. Depois de uma negociação que começou ainda em 2005, a multinacional decidiu que era um bom negócio investir na música clássica da cidade por meio da Lei Rouanet. A Fundação Cultural de Curitiba, por intermédio do Instituto de Cultura e Arte de Curitiba, o Icac, continua providenciando os salários dos 32 músicos e a manutenção básica da orquestra. A parte da Volvo será fornecer dinheiro para contratação de músicos adicionais, para os concertos em que isso for necessário, e bancar gastos extra, como os de anúncios para divulgação das apresentações. Estima-se que o patrocínio para a Camerata em 2006 seja de R$ 150 mil.

O dinheiro extra permitirá alguns concertos mais ousados na programação do ano. O primeiro exemplo disso veio já na estréia da temporada. A Paixão Segundo São Mateus, uma das obras máximas de Johann Sebastian Bach (1685-1750) foi executada em duas apresentações por um grupo de 108 músicos. Ou seja: 76 a mais do que a formação básica da orquestra. Foram contratados um coro adulto, um infantil e vários músicos de instrumentos de sopro, que normalmente não são usados na Camerata. Além disso, vieram quatro cantores solistas, um violista da gamba e o regente e clavicinista Nicolau de Figueiredo.

"Isso nos dá uma segurança maior e permite fazer concertos que dificilmente estariam nas nossas possibilidades em uma situação normal", afirma Janete Andrade, coordenadora de música da Fundação Cultural de Curitiba. Outros concertos de peso que serão incluídos na programação deste ano são o Réquiem e a Missa da Coroação, ambos em comemoração aos 250 anos de nascimento de Mozart, e a segunda parte do Oratório de Natal, de Bach, que já teve três de suas seis cantatas executadas no fim de 2005.

"Trazendo mais investimentos podemos dar condições à Camerata de fazer uma boa programação", afirma Marcelo Catani, diretor de Marketing da Fundação Cultural de Curitiba e um dos principais responsáveis pela negociação com a Volvo. Catani, que também trabalha no projeto da Capela do Santa Maria, diz que o fim da reforma do teatro, previsto há vários anos, é outra boa notícia para o grupo que deverá ser anunciada em 2006. "A obra física termina em 90 dias. Depois temos de ‘rechear’ o imóvel", comenta ele. A primeira parte da reforma incluiu a reconstrução da estrutura. Na segunda, o lugar será pintado e mobiliado.

Terreiro

Assim como já vinha acontecendo em anos anteriores, a Camerata continuará fazendo uma apresentação gratuita de cada um de seus concertos. Pela tradição, o grupo se apresenta sempre na sexta-feira em uma igreja. Depois, no sábado, faz o mesmo concerto cobrando ingressos, em um teatro. A novidade é que desta vez, ao invés de fazer apresentações apenas em igrejas cristãs, haverá também um concerto em um terreiro de umbanda. Será no Terreiro do Pai Maneco. O programa está marcado para novembro e incluirá apenas música erudita composta no Brasil.

Para os próximos anos, a orquestra ambiciona ter um regente fixo, ao contrário do que acontece atualmente. Desde 2001, a Camerata tem um novo maestro a cada concerto. "Gostaria de ter pelo menos alguém que ficasse com o grupo por uns dois meses a cada ano, mas, por enquanto, vamos continuar fazendo o revezamento de regentes", afirma Janete Andrade.

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