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Mariana Zanetti é acossada pelo legista interpretado por Leandro Daniel Colombo em Morgue Story, o filme | Lucia Biscaia/Divulgação
Mariana Zanetti é acossada pelo legista interpretado por Leandro Daniel Colombo em Morgue Story, o filme| Foto: Lucia Biscaia/Divulgação

Longa

Nervo Craniano Zero, o filme

Paulo Biscaia se prepara para rodar mais um filme. A escolha natural, pela cronologia de seus sucessos, seria a peça Graphic. "Teatral demais", rejeita. Exatamente o contrário do que o diretor quer para o futuro de sua obra cinematográfica. Optou por filmar Nervo Craniano Zero e planeja, desta vez, fazer a "transição completa", ou seja, não deixar os resquícios de linguagem teatral que nota em Morgue Story, o filme.

A comparação – e a autocrítica – prossegue. "Quero pegar mais fundo do que com Morgue Story na questão de parecer sério, mas ser profundamente cômico. Morgue Story poderia ter uma aparência menos caricata", avalia. A "verborragia" do primeiro filme também passou a incomodá-lo. A partir de agora, Biscaia quer confiar a narrativa das histórias menos às palavras e mais às imagens e ações.

Nervo Craniano Zero, a peça, estreou em julho de 2009, em meio ao pandemônio da gripe H1N1. Na trama sanguinolenta, uma escritora inescrupulosa cobiça um artefato capaz de extinguir as crises de criatividade e garantir a vida eterna.

O filme digital está em pré-produção, foi aprovado pelo Fundo Municipal de Cultura e deve ser gravado em Curitiba, quase todo em estúdio, com o elenco original: Rafaella Marques, Michelle Pucci e Leandro Daniel Colombo.

O erótico e o sitcom

Logo no começo de 2011, Paulo Biscaia vai ao Rio de Janeiro montar Os Catecismos Segundo Carlos Zéfiro, que estreia por lá em março. A peça inpirada na obra do autor de quadrinhos eróticos carioca gerou interesse por causa do tabu envolvido. "Mas não saio do universo trash. O texto é bem canhestro e divertidíssimo, só não tem sangue!", diz o diretor. Mais ou menos. Numa das leituras, o elenco estranhou o fato, até, enfim, encontrar uma pequena cena de tortura em que aparece um nariz sangrando.

Outro projeto do grupo é a peça Avenida Independência 161, marcada para entrar em cartaz dia 28 de abril, no Teatro Novelas Curitibanas. Fugindo aos próprios costumes, Biscaia pretende brincar com os diálogos dos sitcoms.

A estreia duas semanas após o fim do Festival de Curitiba garante que o diretor estará bem acupado com ensaios durante o evento. Não será problema. "Não temos mais interesse em participar nem do Fringe nem da Mostra Oficial. Quero trabalhar com calma, não no desespero. Está mais do que na hora do curitibano descobrir que dá para ir ao teatro fora daqueles dez dias." (LR)

  • Rafaella Marques, Michelle Pucci e Leandro Daniel Colombo, na peça

As atenções da Vigor Mortis, desde 2009, não se detiveram apenas sobre o território nacional, embora não tenham faltado viagens dentro do país. Morgue Story, o filme, ganhou projeção no circuito de festivais. Ainda assim, não encontrou espaço no circuito comercial brasileiro – à exceção de Curitiba.

No mês passado, o diretor Paulo Biscaia e as atrizes Michelle Pucci e Rafaella Marques estiveram em São Francisco, na Califórnia, dessa vez não para falar de cinema. Foram apresentar a terceira parte do Vigor Mortis Peep Show no Shocktoberfest, evento que a companhia Thrillpeddlers, a mais antiga em atividade a trabalhar com o teatro de horror naturalista do Grand Guignol, promove no mês das bruxas.

"Fui a São Francisco selar uma amizade de longo tempo", diz Biscaia, que já mantinha contato com a trupe norte-americana e pôde conhecer os modos de fazer e pensar de outros artistas dedicados à mesma linguagem que o guia.

Os planos tramados para 2011, a partir da viagem, são a estreia da peça Morgue Story em Washington, montada pelo grupo americano Molotov, e realizar no Brasil um evento semelhante ao Shocktoberfest, com companhias internacionais. Outra ideia importada será o show de horror ao fim dos espetáculos, que inclui figuras fantasmagóricas feitas com tinta fluorescente.

A montagem mais badalada do ano, contudo, foi Nervo Craniano Zero. Depois de uma estreia complicada, em 2009, entre plateias esvaziadas pela gripe H1N1, foi ótimo o retorno de público nas unidades do Sesi do interior paulista – fizeram 28 apresentações de junho a agosto. Tanto que a peça vai virar longa-metragem (leia mais ao lado).

Enquanto isso, a carreira do filme Morgue Story viveu sortes e revézes. Passou por festivais diversos, a maioria de gênero, como a Mostra Trash de Goiânia, mas também os abrangentes, a exemplo do Indie Festival, em Belo Horizonte, a Mostra de São Paulo e o Festival do Rio, além do Illinois International Film Festival, nos Estados Unidos, outros no País de Gales, Inglaterra e Porto Rico, e obteve críticas bastante positivas.

Em Curitiba, o filme só conseguiu uma sala, no Novo Batel, e nenhuma certeza de continuidade se os espectadores não marcassem presença. O público curitibano fez sua parte e o manteve em cartaz por sete semanas, o que provocou até uma visita da Ancine para verificar de perto se os números do alto fluxo eram mesmo verídicos.

A Vigor Mortis esgotou as tentativas de pôr o filme em circuito nacional. "Mas as barreiras...", lamenta Biscaia. "Temos todas as características que provocam preconceito do mercado: é um filme de terror, de baixo orçamento, brasileiro e feito em Curitiba!" O destino de Morgue Story, nos próximos meses, são as prensas de DVDs.

Never More, os curtas

Antes do próximo longa-metragem, a Vigor Mortis lança quatro curtas-metragens, reunidos sob a insígnia do Never More – o refrão célebre cravado nas estrofes de "O Corvo" por Edgan Allan Poe (de quem Biscaia é fã a ponto de ter tatuado a ave e as duas palavras no braço).

O poema é tema de um dos curtas, os outros são "Ligeia", "Morella" (foto 1) (o menor, com oito minutos) e "Berenice" (o maior, com 15). As gravações aconteceram em locações de Curitiba e Piraquara, na região metropolitana, com o elenco da companhia e alguns convidados, como o ator Luiz Bertazzo, da CiaSenhas, que fez "O Corvo". "Na adaptação, deixei um monte de texto em off. Na edição, fui cortando", conta o diretor.

Os quatro curtas já passaram pela pré-edição e estão em fase de sonorização. Biscaia pretende lançá-los no início do ano que vem, no circuito dos festivais de cinema – um dos poucos espaços de exibição para obras de metragem reduzida.

Quadrinhos

Ano que vem, a Vigor Mortis lança sua primeira revista em quadrinhos, com oito histórias escritas por Biscaia e José Aguiar e ilustradas por Aguiar e DW. Vigor Mortis Comics traz novas tramas para velhos personagens: Wanda Wozniak, a protagonista de Garotas Vampiras Nunca Bebem Vinho; o cataléptico de Morgue Story; o Homem sem Sombra, de Graphic; a atriz pornô Úrsula, de Snuff Games. A arte ganha uma significativa coloração vermelho-sangue. Para Biscaia, foi uma experiência nova – por mais que tenha imergido nesse universo em Graphic. "Quando vi que tinha de me enquadrar em uma formatação bem específica de quadros por página, dei uma travada. Mas o José me disse para ir escrevendo e adaptando, me deixou mais solto." Já pensam no volume dois.

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