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Um dos shows cancelados pelo Festival Greenfest foi o da banda inglesa Jamiroquai | Divulgação
Um dos shows cancelados pelo Festival Greenfest foi o da banda inglesa Jamiroquai| Foto: Divulgação

Repercussão

Shows em Curitiba são sinônimo de risco

Quem frequenta shows ou festivais de música de grande porte muitas vezes não imagina o trabalho envolvido nos bastidores desses eventos. Não importa qual a cidade, a realização de um grande evento só acontece depois que os custos com artistas, infraestrutura e pessoal são detalhados pela produtora e a empresa realizadora verifica se tem condições ou não de bancar esse valor.

Nesta lista, o cachê dos artistas e os equipamentos de iluminação e som são os principais fatores de encarecimento dos ingressos. O empresário da banda Scorpions, Paulo Baron, explica que, do ano passado para cá, os artistas internacionais estão cobrando três vezes mais para tocar no Brasil e na América Latina do que em outros países. Além disso, a concorrência entre promotoras de eventos faz com que a vinda de um artista internacional se torne um leilão, em que o lance mais alto "ganha" a turnê.

A falta de infraestrutura técnica aumenta ainda mais essa conta. Para se ter uma ideia, um show em Curitiba pode sair até 30% mais caro do que em outras capitais, porque equipamentos de som e luz precisam vir de São Paulo e não há um espaço adequado para receber shows de grande porte.

No entanto, segundo produtores, Curitiba possui ainda outra particularidade: os hábitos do público. Para o diretor da Planeta Brasil Entretenimento, Patrick Cornelsen, que trouxe o extinto Tim Festival a Curitiba em 2006 e 2007, o curitibano não possui uma cultura de comprar ingressos antecipadamente e isso pode ser um risco para quem promove o evento. "O universo de público em Curitiba é muito menor que em São Paulo, então, é muito arriscado trazer um show para cá, uma vez que as pessoas deixam para comprar os ingressos poucos dias antes do evento acontecer."

Por outro lado, a divulgação é primordial neste tipo de trabalho. Tanto Cornelsen quanto Baron são enfáticos ao dizer que um show só acontece se a divulgação começar com pelo menos três meses de antecedência e os ingressos forem disponibilizados dois meses antes. "A divulgação deve ser massiva, o show precisa estar em todas as mídias e os artistas precisam divulgar em seus sites que estarão no evento. Se não for assim, alguma coisa pode dar errado", alerta Baron. "O planejamento e a experiência com o público local são primordiais para o sucesso de um evento. Não adianta achar que aqui é igual a São Paulo ou Rio de Janeiro", finaliza Cornelsen.

Com a promessa de ser um evento sustentável, em que debates e apresentações culturais se revezariam com discussões sobre maneiras de preservação do meio ambiente, o Festival Greenfest Brasil 2012, que aconteceria nos dias 9, 10 e 11 de novembro, no BioParque, foi cancelado na última segunda-feira, dia 8. O evento, que já havia anunciado atrações como Jamiroquai, Korn, Run DMC e Planet Hemp, divulgou o cancelamento em uma nota oficial via redes sociais. Este é o segundo grande show cancelado em Curitiba neste mês – a banda norte-americana Linkin Park, que se apresentaria ontem, no Estádio Durival Britto e Silva (Paraná Clube), transferiu o show da capital paranaense para o Rio de Janeiro por "questões logísticas".

O Festival Greenfest existe há dez anos nos Estados Unidos e na Europa e utiliza o debate, a música e a venda de produtos sustentáveis para divulgar o viés ecológico. Esta seria a primeira vez que o evento seria realizado fora do circuito internacional. A produção do festival escolheu Curitiba porque a cidade é conhecida como a capital mais sustentável do Brasil e seria o lugar certo para disseminar as discussões sobre o tema. No entanto, a baixa venda de ingressos e o elevado custo logístico impediram a sua realização.

Segundo a produtora do Greenfest Brasil 2012, Nana Bledsoe, o resultado das vendas não foi o esperado, o que teria inviabilizado o evento. A produtora aponta que a venda foi comprometida porque o valor dos ingressos estava "acima do padrão pago pelos curitibanos" e, com poucos bilhetes vendidos, o festival não cobriria os custos com os cachês dos artistas e a estrutura que precisaria ser montada no BioParque.

Frustração

As vendas dos ingressos para o Greenfest tiveram início no dia 27 de setembro, sem um line-up de bandas devidamente oficializado. Apenas 12 dias depois, o público foi surpreendido com a notícia do cancelamento do evento e com orientações sobre como obter o reembolso. Um prazo de tempo que pode ser considerado curto, já que a decisão de ir ou não a um festival de música leva em consideração outros fatores além do preço dos ingressos – gastos com alimentação, estadia e transporte, no caso de uma pessoa que vem de outra cidade, também entram na conta. A venda de convites para o show da banda Maroon 5, por exemplo, realizado no dia 24 de agosto, no Expotrade, em Pinhais, teve início três meses antes da apresentação.

Para quem comprou os ingressos para o Greenfest, a frustação de não ir ao evento é enorme. A gerente de logística Maristela Lima adquiriu o convite em um dos pontos de venda, mas, após o anúncio do cancelamento do evento apenas em redes sociais, está preocupada se conseguirá mesmo reaver o dinheiro que gastou. "Me sinto enganada, comprei meu ingresso, investi recursos em cima disso e, sem nenhuma explicação, a organização cancelou o evento. Agora, sou instruída a enviar um e-mail para um local diferente de onde eu comprei o meu ingresso. Estou com medo de não recuperar o que gastei", desabafou.

Reembolso

A produção do Greenfest Brasil 2012 e o site de vendas Alô Ingressos orientam que os compradores enviem uma mensagem para o e-mail devolucao@aloingressos.com.br, sob o título "Reembolso", com uma cópia digitalizada do convite, juntamente com CPF, RG e dados bancários. A partir da próxima segunda-feira, dia 15, a empresa fará o depósito do valor integral.

De acordo com a diretora do Procon, Claudia Silvano, a empresa pode pedir esse prazo de tempo, de uma semana, para reembolsar os consumidores. Ela explica que o estabelecimento deve priorizar pela orientação adequada e não pode demorar mais de duas semanas para restituir os clientes. "Esse limite é razoável, não é nada absurdo, a empresa garantiu que vai devolver o dinheiro. O que não pode é o consumidor esperar mais do que duas semanas e não ver o valor investido ser depositado em sua conta", declarou a diretora.

Para aqueles que viriam de outras cidades, compraram passagens aéreas e não conseguirão a restituição dos gastos com transporte, a orientação do Procon é que entrem com uma ação por danos materiais via vara cível. A produção do Greenfest Brasil 2012 declarou que casos como esses serão encaminhados à assessoria jurídica do festival e avaliados individualmente.

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