A arquitetura de Curitiba foi fortemente influenciada pelos imigrantes europeus, mas sempre foi caracterizada por uma variedade de linguagens e estilos. Desde a década de 40, existe, por parte do poder público, a preocupação em preservar os monumentos e construções importantes para a história da cidade e estabelecer um valor e uma identidade às obras que mais de destacavam.
Os primeiros imóveis a serem tombados pelo Patrimônio foram o antigo Museu Paranaense (Paço Municipal), a Igreja da Ordem e as ruínas da Praça João Cândido, no Alto de São Francisco. Nos últimos 40 anos, cerca de 50 bens receberam o mesmo tratamento pela Secretaria de Cultura do Estado, entre casas, prédios públicos, praças e parques da cidade.
As construções que mais parecem agradar aos profissionais de arquitetura e à população em geral são as que seguem a tendência modernista, projetadas durante os anos 50 e 60. Importantes não só pela qualidade estética, mas pelo que representam. Um exemplo é o Teatro Guaíra, construído para comemorar o centenário de Emancipação Política do Paraná.
Esses imóveis certamente serão os próximos na lista de tombamento da Coordenadoria de Patrimônio Cultural do estado. Mas, durante os últimos 20 anos, uma série de novas construções surgiu e transformou a paisagem da cidade. Prédios públicos, edifícios residenciais e complexos comerciais se mesclaram a memórias do passado. Embora ainda seja um pouco cedo para avaliar o significado histórico e o valor cultural dessas construções para a comunidade, o novo legado arquitetônico já deixou as suas marcas.
Para o arquiteto e professor Key Imaguire Jr. escolher os principais representantes deste legado é difícil, pois considera a nova fase da arquitetura em Curitiba fraca e sem personalidade. "Depois do modernismo, não surgiu nada em seu lugar. Os projetos seguem a moda, as exigências do mercado e o profissional participa pouco do processo", acredita.
Apesar de classificar a fase mais recente como kitsch e descartável, Imaguire acredita que algumas obras públicas são a salvação da cidade. O Memorial de Curitiba, no Largo da Ordem, e a Universidade Livre do Meio Ambiente são, para ele, as mais representativas do período.
O arquiteto José La Pastina Filho, diretor do Instituto do Patrimônio Histórico Arquitetônico Nacional no Paraná (Iphan), também é um admirador do modernismo e compartilha da mesma opinião de Imaguire. "As novas construções perderam a beleza dos detalhes, usados para a proteção de um edifício, para que ele envelheça com dignidade. Agora elas não possuem raízes sólidas e nem conseguem ter uma ligação afetiva com quem as ocupa", define.
Otimistas
Por outro lado, o arquiteto brasileiro Ruy Othake, um dos profissionais mais respeitados do país, é um simpatizante da arquitetura contemporânea de Curitiba. Para ele, as intervenções durante o governo Jaime Lerner são as mais significativas "As construções deram uma dignidade urbana à cidade, independentemente de serem uma grande obra como a Ópera de Arame ou um simples ponto de ônibus", argumenta. O Jardim Botânico, o Museu Oscar Niemayer e a Pedreira Paulo Leminski também fazem parte da seleção de Othake.
Para o arquiteto e pesquisador Irã Dudeque, a sede da Universidade Livre do Meio Ambiente é uma das melhores e mais importantes obras dos últimos anos. "É criativo e inusitado, construído com materiais e técnicas simples", diz. Também considera o Memorial de Curitiba uma exceção à regra, por respeitar a escala urbana e não interferir no cenário do Largo da Ordem.
O mais otimista entre os entrevistados é o colega Salvador Gnoato, que vê com bons olhos a pluralidade de tendências. "Os edifícios atuais são multifuncionais e precisam ser construídos com agilidade. Os avanços tecnológicos e os novos materiais são bem-vindos", explica. Além das obras já citadas, Gnoato inclui em sua lista de bens tombáveis o Shopping Crystal Plaza, o Hotel Pestana e a biblioteca do Centro Universitário Positivo (UnicenP).
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