A apresentação de "The Rape of Lucrece" ("A Violação de Lucrécia") nesta sexta-feira à noite no Teatro da Reitoria trouxe a oportunidade de conhecer mais da incrível capacidade de construção de personagens de Shakespeare. Ainda há ingressos para a sessão deste sábado, às 21 horas.
Num poema pouco conhecido sobre desejo e violência escrito por ele aos 28 anos, o bardo humaniza o criminoso Tarquínio, que, insuflado pelos elogios de um colega de batalha, Colatino, à virtude e honra de sua esposa Lucrécia, cavalga à noite para conhecê-la, hospedando-se na casa do amigo que trairá na madrugada.
O melhor foi entrar em contato com o texto poético pelas mãos, movimentos e voz da cantora irlandesa Camille O´Sullivan. Embalada pelo pianista Feargal Murray, ela interpreta diversos personagens da obra, que, no recorte da diretora Elizabeth Freestone, da Royal Shakespeare Company (os três artistas são responsáveis pela adaptação musical), enfatiza, com vagar, o conflito interior de Tarquínio depois que Lucrécia vai dormir. A luxúria vence as leis e o respeito somente após muito arrazoado mental, em que o comandante, filho do rei de Roma, lembra outro príncipe atormentado, Hamlet.
Com uma iluminação e cenário fenomenais, Camille move as mãos em belos torneados para indicar personagens e lugares da casa. Ela alterna trechos narrados com canções que musicam o poema shakespeariano de forma única. Mesmo o ato criminoso ganha sutileza na coreografia criada para a cena na cama de Lucrécia.
Após o alívio físico, que dura poucos segundos, o militar foge com a consciência pesada, deixando para trás uma resquício de mulher que afirma ter perdido algo maior que a vida.
Lucrécia chama o marido do campo de batalha e delata o transgressor, para logo se apunhalar. O corpo ensanguentado é mostrado em praça pública pelos familiares como prova do crime, e Tarquínio é banido eternamente da cidade.
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