
Não é de todo incorreto dizer que boa parte da tradição circense se perdeu não para os artistas, mas para os espectadores, mais acostumados a apresentações avulsas de clowns e espetáculos grandiloquentes, como o Cirque du Soleil. Isso é particularmente atestado pela reação do público na noite de ontem ao assistir à última noite de "Caravana Memórias de um Picadeiro", da companhia Circo Roda. O show, que não nega suas raízes teatrais, resgata a inocência e a unidade narrativa dos espetáculos circenses, que costura uma história contada pelo palhaço Caturrão com apresentações acrobáticas de tirar o fôlego.
Na história, Caturrão é um palhaço velho, pronto para deixar o circo para sempre quando encontra uma espevitada menina que sonha em ser artista da lona como ele. Então, preparando-se para ir embora, o palhaço começa a contar sua saga, marcada por viagens por todo o Brasil, o que dá a deixa para os acrobatas realizarem danças e números que remetam a região do país contada na história: samba no Rio de Janeiro, frevo em Recife, capoeira em Salvador e uma emocionante apresentação com aros suspensos em Curitiba.
Todas renderam aplausos entusiasmados do público, que acompanhavam vidrados cada manobra arriscada e riam a cada piada da dupla de palhaços, complementada pelo palhaço Catrainha e acompanhada pela cadela marionete Violeta esta última um sucesso instantâneo entre as crianças presentes, que aproveitaram para comprar versões do boneco na lojinha do Circo Roda no Foyeur do Teatro Positivo.
Interagindo com o público, fazendo rir adultos e crianças e contando uma história que guarda sua boa dose de emoção, a trupe de "Caravana" deixou uma excelente impressão. Na saída, mesmo após as luzes do Teatro Positivo se apagarem, ainda restaram pessoas na porta elogiando o espetáculo. Um rapaz declarava: "Se eu soubesse que ia ser tão bom, teria vindo nos outros dias também", e não estava sozinho em seu comentário. As cadeiras do grande auditório não ficaram completamente tomadas, mas os espectadores que saíram de sua última apresentação do Festival de Teatro animaram-se o suficiente para despreocupar o palhaço Caturrão e não deixarem o circo morrer.
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