Pode ser um despautério autodenominar-se “porta voz da alegria” nestes esses dias tão carrancudos. Pois é este o nome do novo disco de Diogo Nogueira, o primeiro pela Universal Music. “As coisas por aí estão meio enroladas, né? Mas a música faz isso: traz um pouco de oxigênio”, diz o filho de João Nogueira em coletiva de imprensa realizada em uma casa de samba da Lapa, bairro histórico do Rio de Janeiro.
O gênero tipicamente brasileiro sempre conviveu com essa dualidade, de ser algo explicitamente alegre, embora tenha origem no lamento. “O samba tem essa magia”, atesta. O álbum é o sucessor de “Mais Amor” (2013) e tenta aproximar Diogo Nogueira (que coleciona fãs do sexo feminino) de um público mais jovem, sem, no entanto, sublimar suas heranças musicais.
Disco
Diogo Nogueira. Universal Music. R$ 24,90. Samba.
Por isso, há a romântica “A Gente se Liga”, contribuição de Meriti, veterano compositor de “Deixa a Vida me Levar”, ao lado de “Alma Boêmia”, de Toninho Geraes e Paulinho Rezende, que tem potencial para “novo clássico” nas rodas de samba. Os produtores do álbum, Bruno Cardoso e Lelê, tem carreira estabelecida no pagode, o que também indica uma mudança da postura musical do sambista.
“É um disco alto astral e mais pop. Gravei até Jorge Vercillo”, conta, referindo-se a “Grão de Areia”, música com levada afoxé. Diogo se diz mais presente no novo trabalho. Está levando mesmo a sério a carreira que, se tem apenas oito anos, já rendeu um Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba por “Tô Fazendo a Minha Parte”, em 2009. Ele botou a mão na massa em todas as etapas de gravação deste novo disco. “Participei desde as escolhas de detalhes musicais das composições até a mixagem. Aprendi muito durante o processo”, admite.
Musical celebra o centenário do gênero
Diogo Nogueira é um dos participantes do musical “SamBRA”, que será apresentado na sexta-feira (19) e sábado (20), no Guairão, em Curitiba.
Leia a matéria completaOnze das 17 faixas de “Porta-Voz da Alegria” são inéditas. Em duas delas, Diogo Nogueira se aventurou na composição. “Foi bem natural. Seu Monarco [cantor e compositor carioca] me convidou para fazer alguns sambas para a Portela, comecei assim. E aí deixo fluir, é natural”.
A busca por uma identidade faz com que o álbum alterne climas. A solene e lenitiva “Clareou”, de Serginho Meriti e Rodrigo Leite, divide espaço com “Pra Que Brigar”, flashback dos anos dourados do pagode, sucesso na voz de Royce do Cavaco. Em “Deixa Eu Ir à Luta”, há um clima de samba-hino típico de décadas passadas, em que o que era cantado na Marques de Sapucaí importava mais do que a verba das escolas de samba. A faixa recria o balanço original de Leandro Lehart com arranjo de metais e banjo marcante.
Da várzea ao palco
Ex-jogador de futebol (ele atuou profissionalmente pelo centenário Cruzeiro, de Porto Alegre, depois de se destacar na várzea carioca), Diogo Nogueira diz que ainda bate uma bolinha. Também afirma que o “efeito palco” acontece mesmo: “O cara pode ser o mais feio da Terra, mas subiu no palco e cantou três músicas, é lindo.” E que gosta de ficar em casa, fazer churrasco e tomar “uma cervejinha e um vinhozinho bacana.”
Quando não é Candeia, Jovelina Pérola Negra ou Renato Ribeiro que está no som, ouve rock. “Me amarro em Cazuza, Barão Vermelho, Guns N’ Roses.”