Carlinhos Brown está apanhando da crítica por conta de seu último disco, "A gente ainda não sonhou" que está sendo distribuído pela Som Livre. Composições ruins, melodias idem, interpretação capenga, dizem dele, provocando mágoas.
- Dizem que eu estou sem direção. Então me dá o volante que vão ver o que acontece. Tenho que ficar esmolando para fazer show no Rio quando sou convidado lá fora pelo Lincoln Center - diz ele sobre o famoso complexo cultural novaiorquino onde já se apresentou com outros grupos nascidos no seu bairro de Salvador, o Candeal, dentro de sua escola de percussão, a Pracatum, onde também está seu estúdio, Ilha dos Sapos.
Ele tem um extenso trabalho social na Bahia e, durante muitos anos, lutou contra dificuldades para financiar tudo até chegar ao que hoje chama de Sustentabilidade com um leque de apoio que passa pela rainha da Holanda, Beatrix, por entidades da Espanha, onde ele é o grande Carlito Marrón, e pelo governo da Bahia. Pessoalmente também vai muito bem, com o sucesso lá fora em disco e palco e aqui dentro com direitos autorais. So o projeto Tribalistas fechou com vendas superiores a um milhão de exemplares entre disco e DVD.
- Quando fizemos os Tribalistas disseram que era um disco de Marisa Monte e de Arnaldo Antunes com as loucuras de Carlinhos Brown. Será que vai ser sempre assim, o país ofensivo comigo. Estou vivendo um grande momento de independência, sou um cara negro que não trabalha para comer, estou feliz e realizado.
Ele colocou um título que vai contra o pessimismo reinante, uma réplica ainda que tardia ao postulado de John Lennon que se entranhou em todas as culturas sobre o fim do sonho utópico dos anos 60. Em plena era da desesperança e do cinismo descarado, ele proclama que "a gente ainda não sonhou":
- O que é sonhar se não realizar os sonhos alheios. Como sou ajudado a cada coisa que faço, sou um cara formado no Brasil. O Brasil nasceu para dar certo em todo o mundo e sou um dos brasileiros mais respeitados, agora mesmo estou recebendo um prêmio do grupo espanhol Telefônica por um projeto de ajuda a crianças," conta ele entusiasmado. Acrescenta que continua a correr atrás de dois sonhos: construir um teatro no Candeal e a biblioteca Sérgio Buarque de Hollanda, historiador e crítico literário, avô de sua mulher, Helena, filha de Chico Buarque e de Marieta Severo.
O disco está sendo lançado aqui depois de sair na Europa e nos Estados Unidos e Carlinhos conta que foi uma luta com a EMI espanhola que tem seu contrato no país onde ele é rei como Carlito Marrón.
- Eu disse para eles que já tinham tido o verão deles, agora vinha o verão brasileiro e eu precisava que o disco fosse lançado no Brasil. Eles disseram que não achavam necessário, que eu não vendia no Brasil, eu argumentei que não era assim, que no Brasil sou conhecido, já tive mais de 10 canções que tocaram muito no rádio - diz ele.
E conseguiu com a capa original que ficou de fora da edição internacional porque preferiram uma foto dele como Carlito Marrón para facilitar o marketing:
- Este disco se coloca num contexto de reconstrução, daí minha figura como se fosse construída de tijolos que lá fora acharam estranho, muito egípcia, como nas pirâmides. Não é nada disso, eu disse que era tijolo de favela. Nesse disco pus meu canto, minha forma de fazer as coisas de uma forma madura, mas não madura demais porque senão apodrece.
O disco tem 11 faixas que misturam inglês e português nas letras e ritmos que ele chamou uma vez de afroamerindio com melodias fáceis, conexões com seus amigos tribalistas Marisa Monte e Arnaldo Antunes, uma prova de que o trio se mantém junto mesmo separado. A faixa de encerramento, a infantil "Mande um e mail pra mim," assinada por eles, caberia perfeitamente num disco do trio e o mesmo acontece com "Everybody gente" que tem Seu Jorge como parceiro, além dos três, uma balada que se ressente da voz dos demais.
A faixa mais interessante é "Aroma", onde ele reuniu a soma de influências e ferramentas, uma mistura de eletrônica com swing, cordas, guitarra distorcida e uma letra de cores bíblicas que mistura Harmageddon e Jerushalom em puro nonsense. E tem samba reggae em parceria com o baladeiro Michael Sullivan ("Te amo família") bem radiofônica, assim como "Aos teus olhos" em parceria com Ivete Sangalo que fala em beijos para matar desejos e tem muito lálálálá. A cara do rádio, mas o rádio hoje em dia sabe como é, né?
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