O aviso veio de forma inesperada. Em uma das casas no Centro de Antonina pendia um cartaz de cartolina, escrito à caneta e um pouco borrado por causa da chuva: "Pegue aqui a sua fantasia para o Bloco do Boi do Norte". Isso foi na sexta-feira (08), dia da abertura oficial do Carnaval da cidade.
Sem acreditar que poderia dar certo, perguntei se ainda dava tempo de pegar uma fantasia e participar do desfile. A resposta veio de um dos organizadores do bloco, Eloir Dias Fernandes: "Claro que dá. É só chegar aqui no sábado um pouco antes da hora e escolher a sua". Ainda desconfiada, questionei se eu poderia entrar mesmo na Avenida do Samba junto com o bloco. "Sim. Todo mundo pode participar", foi a resposta.
Tive 24 horas para me preparar psicologicamente para enfrentar tudo o que significa desfilar em um bloco folclórico do Carnaval de Antonina. À essa altura, eu nunca tinha visto um desfile de bloco folclórico. No meu pouco experiente vocabulário "carnavalístico", desfile de Carnaval é sempre de escola de samba. E, nesse caso, não seria bem assim.
O dia
Cheguei na hora marcada e encontrei o galpão de fantasias improvisado em uma cena divertida. Crianças e adultos escolhiam suas roupas e faziam os últimos ajustes. "Alguém, pelo amor de Deus, tem um grampo de cabelo?!", bradava um dos integrantes, sem sucesso. Entregaram-me uma saia amarela com lantejoulas, uma blusa laranjada também com brilhos, um chapéu colorido e um nariz de palhaço. Sim, eu seria uma palhaça pela próxima hora. E gostei da ideia.
"Ai meu pai amado, tá na hora! Todo mundo pra concentração!", anunciou Eloir. Com o esvaziamento do galpão, pude enfim conferir meu novo visual no único e concorrido espelho do recinto. Perguntei a uma menina vestida de jardineira se estava bem. "Acho que sim, você tem cara de palhaça", brincou.
Na concentração, senti a expectativa crescente de todos ao redor. O climão poderia ser cortado com faca. Uma menina, sem cerimônia, me puxou para perto do seu grupo. "Venha ficar com os outros palhaços", convidou. Era Ana Carolina Graichen, experiente no Carnaval das escolas de sambas antoninenses, mas também estreante no desfile de blocos folclóricos. Ela havia chamado amigos de Curitiba para desfilar também. Formou-se, assim, o bloco dos palhaços novatos. Estávamos preparados para qualquer coisa.
Com o coração na mão, ouvi as primeiras batidas da música que nos acompanharia durante toda a travessia. Era o tema do Boi do Norte, cantada por Rui e Soraia Graciano, os descendentes da dupla Belarmino e Gabriela, autores da famosa "As mocinhas da cidade".
Empurraram-nos para a Avenida. Chegou a hora do "vamos-ver". No começo, tive vergonha. Havia bastante gente ao redor e parecia que todos me olhavam com olhos inquisidores, do tipo "Dá pra ver que essa menina não sabe nada de Carnaval". Todo o percurso passou em um segundo. No meio do caminho, gotas geladas de chuva caíram ao mesmo tempo em que a bateria esquentou. A partir daí, é só história. Lembro-me de olhar para uma criança, debruçada na grade que separava a passagem dos blocos do público, e ela estava morrendo de rir, assim como todos nós. Felizes da vida.