O recordista de indicações ao 73.º Globo de Ouro narra uma história de amor entre duas mulheres recheada de silêncios e entrelinhas.
Previsto para estrear no Brasil na próxima quinta-feira (14), “Carol” concorre aos prêmios de melhor filme de drama, diretor (Todd Haynes), trilha sonora original e atriz de drama, neste caso duplamente, já que suas duas protagonistas (Rooney Mara e Cate Blanchett) disputam o troféu pela atuação.
A cerimônia, que premia os melhores do cinema e da TV segundo a Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, será na noite de domingo (10), em Los Angeles, com direito à série “Narcos” e ao ator Wagner Moura representando o Brasil na disputa.
A história de “Carol” começou a nascer em 1948, pouco antes das festas de fim de ano, quando Patricia Highsmith (1921-1995) trabalhava como atendente na loja de departamentos Bloomingdale’s, em Nova York.
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Leia a matéria completaEla ficou encantada com a visão de uma cliente, que identificaria nos seus diários como Kathleen Senn. Pouco tempo depois, a escritora americana, na época com 27 anos, foi à casa de Kathleen, no subúrbio de Ridgewood, em New Jersey, para tentar rever a pessoa que atendera e lhe causara uma atração avassaladora.
Esse episódio motivou a autora a escrever “O preço do sal” (1951), rebatizado posteriormente como “Carol”.
Ao ler o livro, Todd Haynes conta que foi fisgado pela possibilidade de contar uma história de amor de uma forma diferente de tudo o que tinha visto até então:
“O que se apresentou para mim, a partir do romance e do roteiro, foi um belo exemplo de história de amor. Eu achava que não tinha olhado para o romance como uma tradição, um gênero, com seus aspectos e características próprios, para a qual eu poderia contribuir deixando a minha marca”, diz.
A trama rendeu a Rooney Mara o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes do ano passado e é uma das favoritas na temporada de premiações americanas. Rooney vive Therese, uma garota do interior que vai para Nova York investir numa carreira como fotógrafa enquanto trabalha como atendente de uma loja de departamentos para pagar as contas.
Cate Blanchett interpreta Carol, uma mulher rica que mora num subúrbio de Nova Jersey com o marido aristocrata e a filha pequena. O encontro entre as duas se dá às vésperas do Natal, quando Therese atende Carol na loja onde trabalha. E desperta um romance que tem consequências doces e amargas para ambas.
Em “Carol”, o cineasta se afasta da influência de Douglas Sirk (1900-1987), que ficou célebre na Hollywood dos anos 1950 por melodramas como “Palavras ao vento” (1956) e “Imitação da vida” (1959). Haynes refilmou de Sirk “Tudo que o céu permite” (1955), com o título de “Longe do paraíso” (2002) e Julianne Moore no papel que fora de Jane Wyman.
Na sua avaliação, os melodramas do alemão têm um olhar objetivo sobre um ambiente social, enquanto em seu novo filme o que interessa é a experiência das personagens envolvidas na história de amor. A referência desta vez, diz ele, foi o britânico David Lean (1908-1991) e seu clássico “Desencanto” (1945), com Celia Johnson e Trevor Howard.
“Do que eu mais gosto, neste caso, tem a ver com o ponto de vista. As personagens são muito próximas no romance. E esse gênero tem uma forma que faz com que entremos na experiência dos envolvidos, especialmente quando são mulheres.
“O livro ‘Carol’ é totalmente contado do ponto de vista de Therese, a personagem mais jovem. O mais legal do roteiro é que ele começa adotando o ponto de vista de Therese, e termina assumindo a visão de Carol. Ou seja, ele termina com a visão da personagem mais fragilizada”, explica.
Conhecido por ser um “diretor de atores”, Haynes conta que o trabalho com Rooney e Cate foi extremamente colaborativo e a química entre elas contribuiu para intensificar o clima de tensão constante que costura a narrativa:
“Tudo começou com o roteiro, que é bem específico e bem observado. Por causa da história e do período em que se passa, há muita coisa que acontece nas entrelinhas. Não é tanto o que essas mulheres dizem uma para outra, muito raramente elas descrevem tudo o que está acontecendo. Então, isso abre espaço para os silêncios, gestos e olhares, o que a câmera está dizendo, o que a música está dizendo em algumas partes. Todos esses elementos têm um papel mais importante na narrativa.”
Parte desse efeito, segundo o cineasta, foi obtido por meio de sugestões das atrizes de abrir mão de diálogos inteiros:
“Elas gostavam de dispensar as falas. ‘Será que ela queria dizer isso mesmo? Vamos jogar fora essa fala’, propunham. E nós dizíamos: ‘É, isso mesmo! Fica melhor sem’. Era tudo interiorizado e alcançado com um olhar, um movimento de câmera. Todo mundo estava confiando na linguagem do cinema.”
Sobre a expectativa em torno da temporada de prêmios, Haynes diz que as mantém baixas, porque é um “mundo imprevisível”:
“Estou orgulhoso do que fizemos e feliz com o fato de que as pessoas estão conectando com o filme. Todo o resto é apenas a cereja do bolo. Isso nem sempre é muito fácil porque temos que promover o nosso trabalho. Mas tento manter a cabeça fora d’água.”
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