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Convidado da 9.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), onde participa da mesa Laços de Família, na sexta-feira, às 15 h ao lado do escritor húngaro Péter Esterházy, o francês Emmanuel Carrère lança logo após o encontro "Outras Vidas Que Não a Minha" (224 págs., R$ 36,90) e relança um livro que reúne dois romances seus numa edição única, "O Bigode" e "A Colônia de Férias" (Editora Alfaguara, 264 págs., R$ 39,90).

No primeiro, escrito em 1986 e há muito fora de catálogo, Carrère conta a história de um homem que decide raspar o bigode e mergulha numa crise de identidade com a falta dele. No segundo lançado em 1995 e também há anos sem nova publicação, um menino solitário e com problemas familiares enfrenta sua insegurança durante uma excursão de inverno de sua escola. Em ambos os livros, o estilo literário de Carrère é bem diferente daquele que viria a adotar na década passada, da qual o mais representativo exemplar talvez seja mesmo o perturbador "O Adversário", lançado em 2000 pela Record e transformado dois anos depois em filme dirigido por Nicole Garcia, indicado para a Palma de Ouro em Cannes.

Sobre o personagem (real) do filme, o impostor Jean-Claude Roman que se fez passar por médico e, em 1993, matou a família - a mulher, os filhos e seus pais - quando o escândalo ameaçou vir à tona, Carrère, revelou não ter mais contato com ele, recusando-se a admitir que Roman sofra de alguma doença mental. "Talvez seja apenas um grande depressivo", arriscou Carrère, que realizou sobre ele uma reportagem semelhante à investigação de Truman Capote sobre um dos autores da chacina ocorrida em 1966 no Estado do Kansas, EUA, retratado no livro "A Sangue Frio". Carrère entrevistou pessoas próximas a Roman e trocou cartas com o falso médico, interpretado no cinema por Daniel Auteuil, que vive o drama de levar adiante uma história falsa sobre sua vida profissional, até não suportar mais o peso de sua invenção. Ele enganou a família e seus amigos por 18 anos, fingindo ser um pesquisador de sucesso da Organização Mundial de Saúde, usando informações acessíveis da entidade e viajando ocasionalmente para evitar suspeitas.

Carrère não esconde certo fascínio por personagens excêntricos. Fez do cineasta alemão Werner Herzog um deles no livro que leva o nome do diretor, quando era crítico de cinema, elegendo a si mesmo como protagonista de seu "Um Romance Russo". Nesse livro, de 2003, ele vai atrás de um prisioneiro húngaro esquecido desde a 2.ª Guerra num hospital psiquiátrico russo, o que o obrigou a retomar contato com a língua da mãe e do avô. Mas, por que esse interesse particular em doentes mentais? "A loucura sempre teve qualquer coisa de fascinante para mim, mas essa fascinação tem diminuído com o tempo, penso."

No mais recente livro seu lançado aqui, "Outras Vidas Que Não a Minha", seus personagens perdem literalmente o pé em condições catastróficas. São duas histórias que se complementam, as duas tendo Carrère como testemunha: na primeira, uma menina francesa, que viajava com os pais, morre no tsunami que atingiu o Sri Lanka há sete anos. Na segunda, ele acompanha a agonia de uma juíza, mãe de dois filhos, vítima de câncer.

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