Desenho, vídeo e objetos são alguns dos itens utilizados pela artista alemã Rosemarie Trockel para compor as suas obras polêmicas. Essa contestação que o seu trabalho apresenta às pessoas é nada mais do que a contradição dos valores vigentes nas sociedades contemporâneas. E Trockel se notabilizou por explorar muito bem essa característica pouco explorada. Toda essa visão particular do mundo estará em Curitiba a partir desta terça-feira (16), às 19h, na Casa Andrade Muricy.
Até o dia 7 de julho, os curitibanos poderão se deparar com um trabalho apurado. A mostra abriga uma seleção de desenhos realizados em nanquim, carvão e lápis, além de vídeos, objetos e murais. "Trockel formula posições contrárias nas quais contrapõe o gênio artístico masculino a papéis e temas femininos. Os grupos de obras individuais refletem seu ponto de vista de uma arte e mundo artístico decididamente femininos, deixando transparecer uma crítica básica ao sistema de arte vigente", escreve a curadora Urula Zeller na introdução do catálogo.
História
O histórico da artista reflete essa posição peculiar. A artista ganhou notoriedade ao longo dos anos 80 e 90, desenvolvendo uma obra muitas vezes descrita como polêmica. Depois de estudar artes e conhecer a arquiteta Monika Sprüth, em 1980, que viria a ser sua futura galerista, ela viajou para os EUA, onde ganhou as amizades e recebeu a influência de Jenny Holzer, Barbara Kruger, Louise Lawler e Cindy Sherman.
Ao retornar, aproximou-se do grupo Mühlheimer Freiheit e começou a trabalhar. Foi quando adotou uma posição menos centrada na pintura e começou a observar, detalhadamente, formas femininas de comportamento, o que logo surtiria efeito em suas criações, na apropriação e subversão de símbolos do feminino.
Simbolismo
O mais conhecido deles talvez seja o tricô, em alusão à mania que tomou a Alemanha a partir da década de 80. Uma colagem de fotografias chamada "Viver É Tricotar Meias" é um exemplo de atuação de Trockel na medida em que estabelece, a partir das seqüências e recortes de imagens, uma relação de ironia com a atividade costumeiramente identificada com as mulheres.
Para tanto, Trockel cria, como sugere Alice Koege, suas próprias malhas, usando motivos como foice e martelo ou o coelhinho da Playboy, replicados pelo computador, em roupas e bonés. "A produção industrial pervertendo o clichê da esposa que manuseia sua agulha de tricô", afirma a estudiosa.
Ironia
A mostra conta, ainda, com o que a curadora qualifica como "uma de suas primeiras obras-primas", o objeto "Máquina de Pintar", de 1990, que combina partes de uma prensa que suporta pincéis pendurados no ar e debruçados sobre uma superfície. "Através da produção mecânica do gesto de pintar, a Máquina de Pintar pode ser entendida como paródia no topo do gênio artístico", afirma a curadora. Foram trazidos, ainda, sete vídeos realizados pela artista entre 1992 e 2000.
Confira o roteiro de exposições
Serviço:
Exposição Rosemarie Trockel. Abertura nesta terça-feira (16) às 19h. Casa Andrade Muricy (Al. Dr. Muricy, 915). Visitação, de terça a sexta-feira, das 10 às 19 horas; sábados domingos e feriados, das 10 às 16 horas. Informações no telefone (41) 3321-4786.