Até a semana que vem, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) deverá se pronunciar sobre o caso "Chatô", que chegou na terça-feira a um estágio crítico. Na segunda, o último dia útil do prazo dado pela agência para que o ator Guilherme Fontes entregasse seu filme devidamente finalizado, não apenas isso não foi feito como o advogado de Fontes, Alberto Daudt, enviou uma carta questionando o valor de R$ 35 milhões que seu cliente teria de devolver aos cofres públicos (a soma corresponde à atualização do valor captado) e, em função disso, pedindo o cancelamento da cobrança.

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"Se ele não tivesse se pronunciado, a Ancine poderia anunciar já hoje (terça-feira) as medidas cabíveis. Mas, como o advogado enviou a carta, temos que esperar que a procuradoria da Ancine se manifeste", informou a assessoria de imprensa da agência.

Como o caso "Chatô" se arrasta há anos e toda a comunidade cinematográfica nacional espera ansiosamente pelo seu fim, a tendência é que a procuradoria não demore a se manifestar, o que deve ocorrer em mais ou menos uma semana, informou a assessoria.

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De acordo com as contas da Ancine, o orçamento total de "Chatô" seria de R$ 12 milhões, sendo que quase três quartos teriam sido captados via leis de incentivo. O filme, que teve sua última etapa de filmagens no fim de 2002, já se encontraria todo rodado e editado, faltando apenas os arremates de finalização (música, efeitos de som, trucagens).

São os dados de que a agência dispõe: "Chatô" jamais teve uma seqüência sequer exibida oficialmente, e só amigos de Fontes chegaram a ver projeções particulares do filme. O corte que existia em agosto de 2003 não fazia muito sentido, segundo relatos de amigos dele, que o teriam aconselhado a contratar um diretor para organizar o material (o que talvez pudesse ser feito por intermédio de narração ou letreiros, dispensando novas filmagens). Isso nunca foi feito.

- Qualquer autor que esteja procurando criar luta mesmo pela prerrogativa de fazer seu trabalho com independência - dizia ele, na ocasião, justificando-se por querer terminar o filme sozinho. - Eu sou obsessivo. Se o filme não tiver minha mão como artesão, não é minha obra, é obra coletiva. Quem assistir, certamente vai ver a minha visão.

Embora a carta do advogado de Fontes tenha forçado a direção da Ancine a esperar o pronunciamento oficial de sua procuradoria, o que a agência pretende é simplesmente solicitar ao Tribunal de Contas da União que execute a cobrança. Em 2001, o TCU inocentara Fontes da acusação de malversação da verba captada, de que o Ministério da Cultura o acusara dois anos antes. O Tribunal determinou então que o processo de captação de recursos fosse reaberto.

Esta decisão é o foco da discórdia entre Fontes e a Ancine, que na época não renovou o prazo para a captação. O ator, que se diz perseguido pela agência, alega que as condições básicas de terminar o filme nunca lhe foram dadas, em função de a busca por novos recursos continuar proibida. A carta enviada na segunda-feira à agência também solicita que o processo seja reaberto. No ano passado, Daudt tentara conseguir isso por meio de um mandado de segurança.

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