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Ele mudou a história do carnaval. E, com as tradições da música negra cravadas no peito, mudou também o samba, batendo o pé pela (re)valorização do partido alto , ameaçado pelo esquecimento - arma de destruição em massa disparada freqüentemente pela indústria pop. Não, não se trata de saudosismo este sentimento que arrebata qualquer um que conheça a obra do mestre Xangô da Mangueira, que aos 82 anos lançou seu primeiro CD, esta semana. Trata-se, sim, de reverência àquele que ensinou tantas vezes que a mola propulsora da vida é a criação .

Criado em um ambiente familiar musical - a mãe, lavadeira, entoava os antigos cânticos dos negros escravos enquanto o solidário filho a ajudava a passar a roupa, já tarde da noite - e embarcado no mundo do samba por navegadores experientes, como o lendário Paulo da Portela, Olivério Ferreira, nome de batismo do mestre, sempre foi testado pela vida. E levou a melhor.

Diretor de Harmonia da Mangueira há 50 anos, posto ao qual chegou pelas mãos de Cartola, Xangô teve seu primeiro contato com o samba nos anos 30, através do diretor de Harmonia da Unidos de Rocha Miranda, Lilico Papai, com quem aprendeu a tocar tamborim e pandeiro. E a soltar as asas da imaginação ao cantar para fazer a chamada "segunda do samba", parte improvisada, após o refrão, objeto de disputa entre sambistas cujo resultado proporcionava status e definia hierarquias na meritocracia das escolas.

- Lilico ensinava tudo, até a improvisação. Era difícil, mas era bonito. Saí dali como improvisador - conta, em entrevista sobre o disco "Recordações de um velho batuqueiro", o primeiro a sair em CD na carreira de Xangô, resultado de um projeto amplo, patrocinado pela Petrobras, que inclui ainda um livro com a história do sambista.

Xangô gravou quatro LPs, hoje artigos de colecionador, e é considerado o "Rei do Partido Alto".

No fim da década de 30, o sambista foi levado à vizinha Portela, comandada por Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da Portela, que logo percebeu no jovem o talento para o canto e o improviso: "Você tem uma riqueza, que você não liga talvez, não liga pra ela. É a sua voz. Você deve aproveitar essa voz, que essa voz aí é maravilhosa. É por isso que eu te convidei a participar do improviso da Portela", disse Paulo ao pupilo. O mesmo Paulo, ao deixar a Portela, levou Xangô à Mangueira.

- Na Mangueira eu cheguei sem esperar. Foi a natureza que me levou. Cartola me recebeu e disse que para eu ficar teria que fazer um teste. Ele arranjou 10 improvisadores para me desafiar e eu tive que vencê-los - conta, orgulhoso.

Aprovado por Cartola, Xangô imediatamente foi alçado à diretoria da escola, de onde saiu, uma vez, por sete anos (de 1985 a 1992), após desavenças com a presidência da escola. Durante os anos em que esteve à frente da Harmonia mangueirense, puxou samba e, depois, passou a função ao consagrado Jamelão. Como diretor de Harmonia da escola, foi responsável pelo supercampeonato, no biênio 84-85, e pelo inacreditável desfile de ida e volta da escola no primeiro ano da Passarela do Samba, em 1985. Xangô também comandou, por 17 anos, um show de samba no Teatro Opinião

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