Assista ao trailer de "Ensaio sobre a Cegueira"
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Pessoas cegas colocadas em quarentena em um asilo, atacando-se umas às outras, trocando sexo por comida. Para Marc Maurer, que é cego, tal cenário - mostrado no filme "Ensaio sobre a Cegueira" - não é uma alegoria sensata para retratar o colapso da sociedade.
De acordo com Maurer, esse é um retrato ofensivo e assustador que pode minar os esforços de integrar os cegos à vida em comunidade.
"O filme retrata cegos como monstros, e vejo isso como uma mentira", disse Maurer, presidente da Federação Nacional de Cegos, sediada em Baltimore, nos Estados Unidos. "A cegueira não transforma pessoas decentes em monstros."
A organização planeja protestar contra o filme na próxima sexta-feira (3), dia de sua estréia nos Estados Unidos. Cegos e simpatizantes irão distribuir panfletos e carregar cartazes. Entre os slogans: "Eu não sou ator. Mas eu ajo como uma pessoa cega na vida real".
De acordo com a entidade, o filme reforça estereótipos incorretos, incluindo o de que cegos não podem tomar conta de si próprios e ficam para sempre desorientados. "Nós enfrentamos uma taxa de 70% de desemprego e outros problemas sociais porque as pessoas não acham que a gente possa fazer nada. E esse filme não ajuda em nada", afirma Christopher Danielsen, porta-voz da organização.
"Todos se ofenderam"
O diretor de "Ensaio sobre a cegueira", Fernando Meirelles, estava em filmagens e não pode ser contactado pela reportagem da AP. O estúdio Miramax divulgou um comunicado que afirma, em parte, "ficamos entristecidos em saber que a Federação Nacional de Cegos planeja protestar contra o filme".
A FNC (NFB na sigla original) começou a planejar os protestos depois que sete pessoas ligadas à entidade foram à uma sessão especial do filme em Baltimore, na semana passada. No grupo, estavam incluídas três pessoas que enxergavam. "Todos se ofenderam", disse Danielsen.
Baseado em um romance de 1995 do prêmio Nobel José Saramago, "Ensaio sobre a cegueira" imagina uma epidemia misteriosa que faz com que as pessoas não vejam nada que não uma luz branca embaçada - o que resulta em um colapso da ordem social em uma cidade sem nome. Julianne Moore estrela o filme como a mulher do oculista (Mark Ruffalo), que também perde a visão; ela finge estar cega para ficar ao lado do marido e eventualmente lidera uma revolta entre os pacientes em quarentena.
O livro foi elogiado por seu uso da cegueira como uma metáfora para a falta de comunicação e respeito à dignidade humana na sociedade contemporânea.
A Miramax afirmou em uma declaração que Meirelles "trabalhou com dedicação para preservar as intenções e a ressonância do aclamado livro", descrito como "uma parábola corajosa sobre o triunfo do espírito humano quando a civilização entra em ruínas".
Maior protesto da história
Mas Maurer não concorda com nada disso. "Acho que a falta de compreensão entre todos é um problema significativo", disse. "E acho que associar isso à cegueira é incorreto."
O protesto vai incluir piquetes nas salas de cinema em pelo menos 21 estados, alguns com dúzias de participantes, sincronizados para coincidir com as sessões noturnas. Maurer afirmou que será o maior protesto nos 68 anos de história da associação, que tem 50 mil afiliados no país.
"Ensaio sobre a cegueira" foi exibido na noite de abertura do Festival de Cannes neste ano, com recepção morna da crítica. Em entrevista na época, Meirelles afirmou que o filme faz paralelos com desastres como o Furacão Katrina, a escassez global de alimentos e o ciclone em Mianmar.
"Há diferentes tipos de cegueira. Há 2 bilhões de pessoas que estão passando fome no mundo", disse Meirelles. "Isso está acontecendo. Não precisa de uma catástrofe. Está acontecendo e por não haver um evento como o Katrina, nós não enxergamos."
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