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Conheça alguns lançamentos recentes que compilam, comentam ou são inspirados na obra de Machado de Assis.

A Coleção Sabor Literário, da José Olympio, lançou dois volumes sobre Machado de Assis:

- O Ideal do Crítico, com organização e apresentação de Miguel Sanches Neto, reúne textos originalmente publicados em uma coluna de crítica que o escritor manteve, em 1866, aos 27 anos, no Diário do Rio de Janeiro. (168 págs. R$ 26)

- Seis Contos Escolhidos e Comentados por José Mindlin. O bibliófilo selecionou os seguintes contos: "A Cartomante", Missa do Galo", "Uns Braços", "Primas de Sapucaia!", "O Enfermeiro" e "Um Homem Célebre". (116 págs., R$ 25)Machado de Assis: Ensaios da Crítica Contemporânea.

A coletânea reúne ensaios machadianos consagrados, acompanhados de textos de autores que se dispuseram a tratar de aspectos pouco abordados em estudos tradicionais. Entre eles, Antônio Carlos Secchin, Ivan Teixeira, John Gledson, Lúcia Granja e Ubiratan Machado. (Unesp, 336 págs., R$ 45)

- Procura-se um Bentinho. Lucius de Mello, autor de Mestiços da Casa Velha (Novo Século, 408 págs.), em que propõe um diálogo entre a obra irônica de Machado de Assis e a densidade germânica de Thomas Mann, inspirou-se em um "neo-Bentinho": um professor negro, entre 25 e 35 anos, que conheceu em Paraty, em 2004.

Capitu traiu ou não traiu Bentinho?

Ainda há quem se debata com a velha polêmica um século depois da morte do célebre criador dos dois personagens centrais de Dom Casmurro. Ao mesmo tempo, questões bem mais interessantes a respeito de Machado de Assis fermentam nas academias e no mercado editorial (leia mais no quadro ao lado). E nada melhor do que uma efeméride para anunciá-las ao mundo.

Até o dia de hoje, que marca o centésimo aniversário da morte do autor carioca, pipocam lançamentos de estudos, compilações e textos de ficção inspirados na obra deste que é considerado o maior escritor brasileiro.

Machado passeou pelos mais variados gêneros, literários ou não. Foi jornalista, cronista, romancista, ensaísta, contista, dramaturgo, poeta. "Bem mais do que um grande escritor, Machado foi toda uma literatura, dando à nossa tradição ainda tímida uma densidade que, naquele contexto, era improvável. Ele conseguiu isso por não restringir sua produção a um único código literário", escreveu o paranaense Miguel Sanches Neto na apresentação do livro O Ideal do Crítico, em que organiza alguns textos de crítica literária do autor.

A genialidade de romances como o já citado Dom Casmurro, Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas é inegável. Mas há quem diga que, nos contos, por ser um gênero sintético, o bruxo do Cosme Velho – para usar seu apelido mais clichê – concentrou melhor sua ironia.

"A Missa do Galo", "Uns Braços", "Conto de Escola", "Cantigas de Esponsais", "Pai contra Mãe" e "Um Homem Célebre" são alguns entre os mais celebrados do acervo de 218 contos de Machado. "Na verdade, ele escreveu 226, mas oito deles publicou duas vezes, alterando o título e mantendo o texto", conta o professor e pesquisador de literatura brasileira Mauro Rosso.

Ele é autor de Contos de Machado de Assis: Relicários e Raisonnés (Edições Loyola e Editora PUC-Rio, 224 págs., R$ 35), lançamento que traz uma peça inédita ao quebra-cabeças legado por este "mestre do mistério, do disfarce, do enigma, da dissimulação", como diz Rosso. É o conto "Um para o Outro", originalmente publicado em dez capítulos, na revista A Estação. Sete deles eram dados como perdidos e, para encontrá-los, Rosso conta que, ao longo de seis anos, empreendeu uma investigação no melhor "estilo Sherlock Holmes".

Após inúmeras buscas, localizou três dos capítulos faltantes com um neto de Estefania Martins Rodrigues, amiga de infância e melhor amiga de Carolina Xavier, mulher de Machado, e os outros quatro misturados a inúmeros papéis do acervo pessoal de José Galante de Souza, em processo de organização na Fundação Casa de Rui Barbosa.

O conto narra a trajetória de dois irmãos, Julião e Henriqueta, que devem "viver um para o outro", como desejou o pai em seu leito de morte. Não é um conto menor, explica o pesquisador, ainda que não se insira na galeria dos grandes contos machadianos. Entre suas peculiaridades estão a temática "ardilosa", as possibilidades que oferece de leituras enviesadas e oblíquas e incursões que, em outros contos pós-1880, se tornariam mais intensas no terreno e nos meandros do subconsciente.

A ele somam-se "relíquias" como "Uma Partida", raras vezes publicado, e "Bagatela", do qual não se sabe se a autoria pertence a Machado ou é tradução de um conto francês. "Caso seja mesmo uma tradução, é o único conto na fecunda atividade de tradutor de Machado, preponderante de peças teatrais e poesia. Como tradução ou criação original, abriga e incorpora o 'espírito' e os elementos do conto fantástico, a que Machado foi gradativamente se aproximando", diz Rosso.

Na segunda parte do livro, os raisonnés, o autor retrata e aponta as diversas edições dos contos machadianos ao longo do tempo. Ele prepara, ainda, uma antologia de crônicas sobre política do escritor carioca, que será publicada em 2009 pelo Senado, também com textos inéditos.

Aos relicários juntam-se compilações de contos clássicos de Machado, com destaque para Seis Contos Escolhidos e Comentados por José Mindlin, em que o bibliófilo guiou-se por preferências pessoais para realizar sua seleção. "Sou um apaixonado leitor de Machado e o considero um contista comparável a Chekov, que se destacou na literatura universal por suas histórias magistrais", escreve na apresentação.

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