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Se não fosse um bom filme, A Noiva Síria seria no mínimo curioso. A diversidade de línguas faladas no filme e o tragicômico das situações dão a ele a dimensão de uma Torre de Babel. A própria produção é multicultural: o diretor, Eran Riklis, é israelense, o co-roteirista é palestino e os produtores são europeus. Os personagens pertencem a um vilarejo de drusos, povo sem nacionalidade oficial, que habita a região síria das Colinas de Golã, tomada pelos israelenses em 1981.

Felizmente, este não é mais um filme esdrúxulo sobre o Oriente feito para inglês ver. O roteiro inspirado criou uma série de absurdos que seriam cômicos se não lembrassem a todo momento que a realidade pode ser ainda mais estranha que a ficção.

A história gira em torno do casamento de Mona (Clare Khoury), uma das filhas de Hammed (Makram Khoury), ativista pró-Síria que cumpre pena condicional e patriarca durão, empenhado em seguir os preceitos de sua religião. O matrimônio arranjado, com um ator de sitcom da TV síria que a moça nunca viu pessoalmente, reúne toda a diversidade de tipos que compõe a família.

Da Itália, chega o caçula Marwan (Ashraf Barhoum), um empresário com pinta de trambiqueiro e mulherengo. O irmão mais velho, Hattem (Eyad Sheety), volta ao lar depois de oito anos, disposto a enfrentar a ira do pai, ainda inconformado por ele ter desobedecido os preceitos religiosos e se casado com uma médica russa (Evelyn Kaplun).

A irmã Amal (Hiam Abbass), de tendências liberais, é uma espécie de protagonista, que une os personagens pelo seu esforço para apaziguar os conflitos familiares. Frustrada por ter se casado com um homem que não ama e extremamente conservador – ele não quer que ela estude e proíbe uma das filhas de namorar um jovem israelense, Amal deseja que a irmã mais nova tome rumos melhores do que os seus. Mas, o destino da noiva é uma aposta no escuro: assim que cruzar a fronteira para viver em Damasco, ela não poderá mais voltar, tornando-se oficialmente síria.

O filme se desenvolve em torno de "absurdos" para nós, ocidentais. Como um povo vive sem nacionalidade definida? Como alguém se casa com um desconhecido e se dispõe a nunca mais rever a família? São questões que criam uma dramaticidade que, de tão surreal, chega a tornar-se cômica. E, no entanto, o nonsense de uma história particular reflete a situação política da região.

A tragicomédia ganha amplitude quando a família chega à fronteira para oficializar o matrimônio e despedir-se da noiva. Tudo conspira contra Mona: o pai, proibido de estar ali pela polícia israelense, é acuado pelo delegado; o funcionário israelense responsável pelos trâmites burocráticos mostra-se pouco disposto a facilitar a travessia; os policiais sírios também não querem se incomodar. Enquanto isso, uma jovem francesa, funcionária da Cruz Vermelha (Julie-Anne Roth), corre de um lado para o outro tentando, sem sucesso, resolver o impasse.

Enfim, A Noiva Síria impressiona pela força de suas personagens femininas e pela maestria com que equilibra o drama familiar, a farsa bem-humorada e o comentário político. GGGG

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