Gosto da reta final do Big Brother. Quando o enredo, criado pela edição do programa e por nossas opiniões subjetivas sobre futuros DJs que jamais iremos conhecer, está encaminhado. Qual uma trama de Silvio de Abreu, há núcleos estabelecidos, pelos quais temos preferência ou não. Aí votamos. Escolhemos um, ignoramos outro. Como se tivéssemos de escolher entre azul e vermelho. E assim reforçamos a onipresente dicotomia maniqueísta, sinônimo de nossos tempos.
Na edição 2015, entretanto, algo raro acontece. O paranaense Cezar Lima, nascido em Inácio Martins (cidade com 10 mil habitantes), nadou contra a histórica maré do jogo. Não estabeleceu relações (amorosas, de amizade); não debateu votos para formar alianças; brigou pouco, não deu barraco. Na verdade, parece que não está nem aí para o programa que pode (ele é o favorito) lhe dar o prêmio de R$ 1,5 milhão. No Show de Truman público e legitimado que todo mundo vê, Cezar não se importa em ignorar o mundo. Não deixa de ser um ato de coragem. Ou o cúmulo da solidão.
Sua personalidade é desafiadora. Cezar fala de uma maneira irritantemente pseudo-pedante. Mistura palavras difíceis – das quais talvez não saiba o significado – com conjugações mal feitas. Tem um discurso político (em 2012, foi candidato a vereador pelo PSL e teve 57 votos) completamente arquitetado. Dá nos nervos. O rapaz é uma contradição: no confessionário, joga para o público. Percebe-se que estuda as frases, todas populistas. “Boa noite povo brasileiro que nos brinda com a honra de sua audiência”, diz, como um Jânio Quadros recém-chegado ao rodeio. Mas dentro da casa não se importa muito com ninguém. Da mesma forma, os competidores restantes não o suportam mais: o paredão da última terça-feira (31) foi o quinto seguido de Cezar Lima. E ele ficou. O que mostra também sua força fora da casa, no mundo de verdade. Para completar, é azarado (não ganhou nenhuma prova de anjo ou líder) e tem dificuldade em compreender algumas atividades propostas. Pois é ele quem pode ser o mais novo milionário do país.
É natural que tenhamos preferência pelo mais fraco. Quando Alemanha e Geórgia jogam, por exemplo, para quem você torce? Um rapaz tímido, inseguro, e de certa forma puro, é mel para abelhas. Que seu jeitão “lobo solitário verborrágico” é verdadeiro, sabemos. O que não entendemos ainda é o quanto dessa ingenuidade azucrinante – às vezes nem Pedro Bial o suporta – é eficiente a ponto de o camarada vencer um jogo em que, historicamente, quem se dá bem é querido e desejado.
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