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Não, não é o Che. É o Benicio del Toro em um filme gringo. |
Não, não é o Che. É o Benicio del Toro em um filme gringo.| Foto:

Nova Iorque - Steven Soderbergh apresentou Che, o seu novo filme, numa concorrida sessão no Festival de Nova Iorque. O diretor, hoje com 46 anos, que iniciou sua carreira como cineasta independente no Festival de Sundance (EUA) aos 26, despontou no mundo do cinema com sexo, mentiras e videotape, um filme totalmente diferente do que se fazia à época no cinema norte-americano. O longa-metragem lhe deu a Palma de Ouro em Cannes naquele ano, o tornando o diretor mais jovem a ser laureado com esse prêmio até então.

Che – que também concorreu à Palma em 2008– tem 4h28 de duração e é dividido em duas partes. A primeira parte, de 2h10 minutos, trata da participação de Guevara na Revolução Cubana (1959), intercalando as imagens de batalha com seqüências ligadas ao discurso dele na Organização das Nações Unidas (ONU).

A segunda parte se concentra no período de 341 dias que ele passou na selva boliviana, até sua morte, em outubro de 1967.

Rodado na Espanha, Bolívia, México, Porto Rico e EUA (Nova Iorque), o filme custou US$ 60 milhões, é falado em espanhol e narrado quase como um documentário reconstituído, contendo cenas que se referem apenas ao personagem político.

Benício del Toro, norte-americano de origem porto-riquenha, que vive Che, ganhou o prêmio de melhor ator no último Festival de Cannes. O brasileiro Rodrigo Santoro interpreta o atual presidente de Cuba, Raúl Castro, irmão de Fidel (vivido pelo mexicano Demián Bichir). Soderbergh concedeu entrevista para jornalistas após a projeção. Leia, a seguir, os principais trechos.

Gazeta do Povo – Por que mais uma versão para o cinema da vida de Che?

Steven Soderbergh – Antes de fazer meus filmes, procuro me olhar como espectador e, nesse sentido, a vida de Che era algo que eu gostaria de ver nas telas, não apenas porque sua vida parece ser uma história de aventura, mas porque eu estava fascinado pela idéia de tentar colocar num roteiro uma idéia política em grande escala. Além disso, eu queria detalhar as exigências físicas e mentais que as duas campanhas exigiram dele e ilustrar o processo de um homem que nasce com uma vontade inabalável de liderar outros. Mas meu maior interesse era discutir a passagem de Guevara pela Bolívia.

Por que então a decisão de narrar uma grande parte passada em Cuba?

Há muitos aspectos da vida de Che que as pessoas não conhecem. Por isso, fiquei temeroso que a exclusão de sua passagem por Cuba dificultasse o entendimento de sua trajetória e da confiança que ele tinha nas chances de sair vitorioso no território boliviano, da mesma forma como ocorreu na nação cubana.

Há algumas diferenças estéticas nos dois filmes. Por que a decisão de juntá-los?

Os dois filmes têm diferenças visuais porque, na segunda parte, eu procurei chegar mais perto com a câmera. Quanto à razão para juntá-los, acho que os filmes são gêmeos. No primeiro momento, eu adotei uma técnica de engajamento e depois os editei separadamente para conseguir o que queria.

E a opção pelo idioma espanhol?

Acho que não se pode fazer um filme com um mínimo de credibilidade sobre esse assunto sem que ele seja falado em espanhol"

Alguns filmes sobre Che serviram de inspiração para a sua versão do revolucionário?

Sim, utilizei filmes já feitos sobre ele como fontes de inspiração, mas, na pesquisa para o roteiro, muitas vezes encontrei dificuldades para obter as informações que eu precisava. Eu queria saber mais, por exemplo, a respeito de sua passagem pelo Congo, mas essa passagem não fica clara em nenhuma de suas biografias.

Você ficou satisfeito com o resultado final?

Muito. E não é preciso compartilhar as idéias de Che para reconhecê-lo como um dos grandes personagens do século 20 e o seu idealismo, a sua luta pela melhoria de outros povos. Che pode ser considerado um dos últimos representantes do tipo de pessoa que foi, e acho que hoje seria praticamente impossível surgir alguém com uma trajetória semelhante.

A exibição do filme em duas sessões é quase uma espécie de show. Qual sua expectativa para a receptividade do público?

Essa resposta será dada pela audiência.

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