"Johnny e June" é um sucesso. Pelo menos é possível constatar isso após os US$ 118 milhões de bilheteria só nos Estados Unidos, dos 3 milhões de cópias do DVD do filme já vendidas logo na primeira semana de lançamento, e de uma rentável trilha sonora que já chegou a marca de 500 mil cópias vendidas nos EUA. Endossando a tese de que o filme agradou, e ao contrário do que alguns críticos dizem, de que é apenas um filme para ganhar Oscars, chega ao Brasil mais dois lançamentos que reafirmam o sucesso do longa e de Johnny Cash.

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Porém, cabe uma ressalva ao público brasileiro que for ao cinema assistir ao filme "Johnny e June" apenas para conferir o desempenho de Reese Witherspoon, vencedora do Oscar de melhor atriz deste ano. A mais nova queridinha de Hollywood, que vive a cantora June Carter, é uma mera coadjuvante de luxo na trama. O enredo do longa-metragem de James Mangold é, sobretudo, a respeito da juventude de Johnny Cash, um dos maiores ícones da cultura pop norte-americana, morto em 12 de setembro de 2003.

Menos conhecido no Brasil do que Elvis Presley, Cash talvez nunca tenha alcançado renome internacional na proporção do "rei do rock" porque a grande força de suas canções estava nas letras. Confessionais, por vezes depressivas e, invariavelmente, embotadas de sinceridade, falavam da vida nos presídios, sobre o consumo de drogas e a respeito de solidão, amores turbulentos e exclusão social.

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Maior cantor da country music de todos os tempos, Cash não foi limitado pelo gênero musical que abraçou. Com fortes ecos do gospel (branco e negro) e do rock-and-roll, sua obra teve enorme ressonância em muito do que é produzido até os dias de hoje no cenário pop internacional. Tanto que o artista é endeusado por diversas tribos em todos os cantos do planeta.

Com o sucesso de "Johnny e June", existe hoje uma espécie de revival do legado de Cash. No Brasil, acabam de ser lançados os discos com "Ring of Fire – The Legend of Johnny Cash", que reúne os maiores hits do artista, e a trilha sonora de "Johnny e June".

Os mais puristas vão preferir, e com certa razão, ir direto à fonte e conferir a coletânea que chega ao mercado pela Universal. Ao todo, são 21 faixas que, se não dão conta da complexidade da carreira do cantor, conseguem atestar a sua genialidade e frescor, mesmo décadas depois de terem sido lançadas.

Além de "Ring of Fire", canção de June Carter que dá título à antologia, figuram no CD "Walk the Line", que fala da dificuldade de Cash, um mulherengo inveterado e ávido consumidor de drogas, em andar na linha; "A Boy Name Sue", sobre as agruras de um garoto com nome de mulher; "San Quentin" e "Folsom Prison Blues", a respeito da dura vida em presídios americanos; e "Man in Black", uma explicação musical para o fato do artista ter optado pelo preto como sua cor-assinatura. Também estão no disco "Jackson", dueto com June que fez enorme sucesso, "The Wanderer", com participação do U2, e "Hurt", composta por Trent Reznor, líder da banda Nine Inch Nails.

Outras vozes

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Quase todas as músicas citadas acima, especialmente as gravadas no início da carreira, estão na trilha de "Johnny e June". O diferencial está no fato de terem sido gravadas pelos atores do filme. Joaquin Phoenix se sai muito bem porque conseguiu encontrar na voz um tom grave e dramático, próximo, mas não idêntico ao registro de Cash. Vale, realmente, conferir o trabalho do ator, indicado ao Oscar neste ano. Reese Witherspoon, embora superestimada pela crítica, também convence como o grande amor da vida do cantor.

A trilha sonora traz, ainda, faixas nas vozes dos atores/cantores que interpretam outros mitos do rock americano, como Jerry Lee Lewis (vivido por Waylon Malloy Payne), Buddy Holly (Jonathan Rice) e Elvis Presley (Tyler Hilton).

Embora seja, basicamente, um disco de cover, "Johnny e June" é um trabalho primoroso, graças à produção de T Bone Burnett, também responsável pela premiada score de "E Aí, Meu Irmão", "Cadê Você?", de Ethan e Joel Coen.