Ouvir um disco que ficou 36 anos perdido é certamente uma viagem cultural. Mas quando esse disco reúne o lendário Dizzy Gillespie e o mítico combo de sambalanço brasileiro Trio Mocotó, aí então é mais que uma viagem, é um delírio.
A gravadora Biscoito Fino acaba de lançar o álbum "Dizzy Gillespie no Brasil com Trio Mocotó", disco gravado em 1974 e que andou perdido durante quase quatro décadas, localizado no ano passado.
São seis faixas apenas, registradas no Estúdio Eldorado em agosto daquele ano, e que reunia o quarteto de Dizzy e mais o Trio Mocotó - João Parayba (percussão), Nereu Gargalo (pandeiro) e Fritz Escovão (cuíca). A cantora Mary Stallings canta "Evil Gal Blues", composição de Leonard Feather e Lionel Hampton (que foi grande sucesso de Dinah Washington).
Talvez a bossa nova seja a síntese mais perfeita da ambição de unir o jazz e o samba (tão perfeita que acabou se misturando ao mainstream do jazz), mas essa experiência de Dizzy Gillespie é um tanto mais excêntrica. As duas primeiras músicas, "Samba" e "The Truth", são do pianista e compositor Michael Josef 'Mike' Longo, que trabalhou longamente com Dizzy (com quem dividiu o disco "The Earth Is But One Country").
O solo de trompete atravessa longamente a seção rítmica de samba com uma levada meio de ambient music (à moda de Burt Bacharach) em "Samba". Já "The Truth" é mais experimental, com solos concêntricos de Dizzy costurando um percurso abstracionista no meio da percussão. O guitarrista da banda de Dizzy, Al Gafa, compôs e faz o principal solo de "Behind the Moonbeam", a mais deliciosa levada do álbum, total samba jazz.
Produzido pelo suíço Jacques Muyal, que conta a história de como reconstituiu a trajetória do álbum pelo mundo, até reeditá-lo no Brasil, o disco foi mixado em Los Angeles no ano passado, e provavelmente vai causar grande efeito quando chegar aos ouvidos da comunidade jazzística norte-americana. É uma avis rara mesmo no meio da tradição de visionário de Dizzy.
John Birks 'Dizzy' Gillespie tinha 57 anos em 1974 e já era uma lenda do jazz, responsável pela modernização do gênero e pelo alargamento de suas fronteiras, buscando conexões com os ritmos afro-cubanos, por exemplo. Ganhou o apelido, Dizzy, por causa das caretas que fazia ao tocar, suas grandes bochechas. Foi um dos maiores nomes da música popular no século 20. Criou o bebop, ao lado de Charlie Parker e Thelonious Monk. Compôs standards do jazz, como "A Night in Tunisia". Morreu aos 75 anos, de câncer.
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Deixe sua opinião