Conhecido simpatizante do PT, partido que seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, ajudou a fundar, Chico Buarque não se negou na noite de terça-feira a responder perguntas sobre a atual crise política no país. Durante entrevista concedida na 11ª Jornada Nacional de Literatura em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, onde o escritor e compositor foi receber o 4º Prêmio Zaffari & Bourbon (no valor de R$ 100 mil) pelo romance "Budapeste", ele admitiu ter a impressão que seria mais solicitado a explicar a realidade brasileira dos últimos meses do que a ficção que produz. Embora tenha falado sobre a crise, a princípio preferiu não se incluir diretamente no discurso.
- Falo a contragosto. Estou acompanhando os acontecimentos dia a dia. Não tenho realmente grande coisa a acrescentar ao que vem sendo dito. Minha sensação pessoal talvez não seja relevante. A alma do país está ferida com a série de acontecimentos que eram mantidos no plano subterrâneo e estão aflorando. É doloroso, mas talvez seja necessário - disse Chico.
Depois de versar sobre os temas música, literatura e cultura brasileira - descontraído, disse ter "uns seis, sete amigos escritores", mas "perdeu alguns" depois que começou a escrever - o compositor foi mais objetivo sobre a crise:
- Eu gosto do Lula, votei no Lula. Continuo achando que sua eleição foi da maior importância para a afirmação da democracia do país e do homem brasileiro. Se eu estou contente? Não estou, estou triste. Mas o fato de eu estar triste é tão importante quanto a alegria raivosa de quem nunca gostou do Lula, de quem nunca na verdade aceitou a vitória do Lula, com tudo o que isso representou, aqui no Brasil e lá fora.
O escritor premiado, que embarcaria ontem mesmo para o Rio, sorriu mais uma vez ao falar sobre as chances de seu time, o Fluminense, ser campeão brasileiro, e rebateu, divertido, o questionamento de um repórter a respeito da possibilidade de os escândalos da política influenciarem sua produção musical.
- Você não quer que eu escreva o sambão do mensalão - ironizou ele.
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