No dia 13 de maio, a Companhia Brasileira de Teatro estreia na França o espetáculo Nus, Ferozes e Antropófagos, criação conjunta com os coletivos Jakart/Mugiscué e Centro Dramático Nacional de Limousin.

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Em pouco mais de um mês, os diretores e atores ainda trabalharão muito para dar forma à encenação, que parte de um olhar duplamente lançado sobre o "outro": o ser brasileiro e o ser francês. Embora já apresente uma estrutura com começo, meio e fim, a obra que se viu neste fim de semana no Festival de Curitiba é ainda um instantâneo de um processo que está por completar-se.

Abrir a criação ao contato com o público nessa etapa do trabalho permite que mais um olhar se some, o deste outro que é o espectador, e a partir dele a obra se transforme. A Cia. Brasileira já fez isso no passado, ao apresentar no festival o ensaio aberto de Deserto, que viria a se tornar o espetáculo O Que Eu Gostaria de Dizer?

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Nesse primeiro encontro com o público, o que já pode se ver então é o forte apelo popular dos clichês de cada cultura colocados em contraste. Sobressai o humor, provocado pelo reconhecimento de situações e posturas: a falta de desenvoltura nos quadris da francesa em aulas de dança; a aparente incoerências (diante de olhos brasileiros) das rígidas regras de etiqueta à mesa dos franceses.

No sábado, uma das atrizes francesas foi aplaudida em cena aberta ao contar uma história inteiramente com expressões idiomáticas, daquelas cuja tradução não pode ser feita de modo linear, como "a vaca foi para o brejo". Mesmo com as dificuldades de tradução entre culturas, o encontro é possível.

As cenas apresentadas mostram uma insistência nos dualismos como estrutura recorrente, contrapondo França e Brasil em aspectos históricos, culturais e, sobretudo, linguísticos. Exceção é uma sequência de troca de roupas, síntese da potência maior da obra: a troca peles, de invólucros, de pontos de vista.

Nus, Ferozes e Antropófagos parte dos clichês e trabalha sobre eles. Com isso, aonde se pode chegar além das primeiras impressões e verdades superficiais? A possibilidade de transformação no contato com o outro parece ser o caminho.