Luiz Bertazzo e Greice Barros em cena que une poesia e crítica social| Foto: Elenize Dezgeniski/Divulgação

"Fechem o portão! Não entra mais ninguém!" Esse era o clima da equipe do Teatro Novelas Curitibanas na última sexta-feira, minutos antes da apresentação de Concerto para Rameirinhas, em cartaz até o próximo domingo. "Semana que vem vai ter polícia na fila", brincou um funcionário. A grande procura pela peça, de entrada franca, é explicada no próprio texto da obra: "Vocês vieram pelo concerto... ou pelas rameirinhas?", pergunta uma insinuante Greice Barros.

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O público, dividido em duas arquibancadas que se confrontam, continha interessados em ouvir um pouco de sacanagem e em conhecer teatro experimental, nicho da companhia CiaSenhas.

O grupo curitibano, formado por oito artistas, pesquisou em dois contos de Luci Collin ("Fotinha" e "Cotação do Dia") tabus ligados ao sexo e à prostituição.

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O tema está presente em diversos detalhes, a começar pela estética. A ação se desenvolve sobre um tablado acarpetado e peludo de padrão "zebrinha", que poderia ser uma cama de bordel ou uma rua mal frequentada, por onde transitam os personagens/narradores. O figurino inclui os ícones do cabaré – tules, lingeries, decotes e maquiagens fortes. Do teto, pendem estruturas de metal em formato de camisinha que confeririam um ar de submundo ao conjunto, não fossem os dois músicos, alojados no fundo da cena, com roupas que parecem saídas de uma colônia amish.

Na trama, são os personagens dos contos de Luci que nos transportam a esse submundo, em que "comigo" se diz "mais eu" e crianças são entregues a velhos tarados.

A proposta de deixar de lado o preconceito para abordar um tema tão essencial é cumprida ao se dar voz a diferentes discursos. Estão lá a visão da prostituta como uma vítima ingênua da maldade alheia e das circunstâncias, mas também a pecha de "doente de libido crônica": entra em cena a rameira safada, que tem coragem de enumerar as partes do corpo de que mais gosta.

Em momentos como este e em muitos outros, o público é solicitado e muito, mas muito observado, com um olhar travesso que chega a constranger. A interação com a plateia alcança o inferno dos tímidos, que correm o risco de entrar como espectadores e terminar dançando no palco com um dos atores.

Apesar disso e da alusão à crise social contida nas histórias de filhas e irmãs escravizadas sexualmente, a comédia nunca deixa o palco.

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A CiaSenhas criou um espetáculo surpreendentemente leve, que agrada quem procura rir mas também quem busca poesia cênica esculpida por um dos grupos na cidade que se dedicam a ela.

Serviço

Concerto para Rameirinhas. Teatro Novelas Curitibanas. Rua Carlos Cavalcanti, 1.222-São Francisco. (41) 3321-3358. Quinta-feira a domingo, às 20 horas. Entrada franca. Até 10 de julho.