A década do 11/09
Veja a cobertura completa dos dez anos dos atentados de 11 de Setembro.
Radicalismo foi exposto
Quando Henry Kissinger publicou Diplomacia, seu estudo sobre relações internacionais, em 1994, ele não tinha nenhuma entrada no índice remissivo para os temas "Islã" ou "religião". Dez anos depois, Madeleine Albright, que assim como Kissinger comandou o Departamento de Estado dos EUA, escreveu o seu próprio estudo sobre os temas mundiais: Os Poderosos e o Todo-Poderoso: Reflexões sobre a América, Deus e o Mundo. Quase metade do livro tratava dos muçulmanos e do Islã.
A comparação entre os dois livros mostra como o mundo mudou desde o 11 de Setembro de 2001. Os atentados fizeram com que a religião voltasse à vida pública em muitos países ocidentais onde a fé havia sido relegada principalmente à esfera privada. "O 11 de Setembro mostrou que a religião não pode mais ser ignorada", disse Scott Appleby, historiador da Universidade de Notre Dame, em Indiana.
Nos últimos dez anos, governos e pesquisadores na América do Norte e Europa têm recorrido à sociologia, à psicologia, à antropologia e a outras disciplinas para tentar entender e prevenir a violência com motivação religiosa. Os resultados são contraditórios. O papel exato da religião no radicalismo é incerto. A psicologia e as dinâmicas coletivas podem motivar os extremistas mais do que a fé. A "Primavera Árabe" pode se tornar um contraponto democrático à ideologia jihadista da Al-Qaeda.
Miopia secular
Durante décadas até o 11 de Setembro, políticos e analistas ocidentais exibiram aquilo que Appleby chamou de "miopia secular", ignorando o papel da religião na política. Como a fé deveria ser algo privado, a maioria ignorava-a em suas análises. Isso ocorreu a despeito do surgimento de movimentos religiosos ultraconservadores.
Nova York - Tem dias em que os nova-iorquinos olham para cima e comentam melancolicamente que o céu está tão azul quanto em 11 de setembro de 2001. E há também momentos em que eles ouvem um avião passando e levantam os olhares, preocupados de que esteja voando baixo demais.
Quem não é de Nova York se acostumou a pensar nos moradores da cidade como uma gente fria, até mesmo de coração duro, mas isso mudou dramaticamente há dez anos, quando dois aviões sequestrados derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center. Muita gente ficou mais ansiosa, alguns ficaram com ódio, e a maioria ficou mais triste. Mas os nova-iorquinos aparentemente também passaram a ser mais carinhosos e solidários, segundo especialistas que estudaram as reações aos atentados. O mais notável é o reflexo condicionado de medo diante de qualquer coisa que soe ou pareça um atentado, dizem esses especialistas. Trovões, fogos de artifício e o recente terremoto sentido na cidade evocam esses pavores, por exemplo.
"Uma reação muito clara quando o terremoto aconteceu foi: Ai, meu Deus, é terrorismo", disse Judith Richman, epidemiologista da Universidade de Illinois, em Chicago, que estudou o impacto do 11 de Setembro sobre a saúde mental dos nova-iorquinos.
O medo se revela também na intolerância que se tornou mais predominante nestes dez anos, dizem especialistas, citando como exemplo a reação popular contra a construção de um centro cultural islâmico e uma mesquita perto do terreno onde ficava o World Trade Center. No ano passado, um taxista da cidade foi atacado por um homem que perguntou se ele era muçulmano e celebrava o Ramadã, e então fez cortes no seu pescoço, rosto e ombro.
Cidadania
Por outro lado, os nova-iorquinos aprenderam também a ter mais cuidado com seus concidadãos. Foi o caso, por exemplo, num apagão em 2003, recebido com descontração. Na ocasião, muitos moradores ajudaram a orientar o trânsito e a guiar as pessoas por ruas escuras algo muito diferente dos saques e distúrbios registrados no célebre blecaute de 1977. Mais recentemente, vizinhos se ajudaram mutuamente nos preparativos para a chegada do furacão Irene, segundo Richman.
"As pessoas aprenderam a procurar ajuda quando estão em perigo", afirmou ela. Mas outro efeito colateral do 11 de Setembro é uma "tristeza silenciosa" entre os moradores, segundo Yael Danieli, psicóloga especializada em traumas coletivos. "Um mar muito profundo de tristeza está na alma das pessoas. Está na alma dos sobreviventes, e acredito que para sempre na alma de Nova York".
Já o dramaturgo Christopher Shinn, que abordou a vida pós-11/9 na sua peça Where Do We Live ("Onde Vivemos"), acha que o impacto dos atentados mal começou a ser sentido. "Quando as coisas voltaram ao normal, dissemos...: Agora temos alguma perspectiva, podemos começar a pensar a respeito", afirmou ele. "Mas isso nunca aconteceu. Pelo menos eu ainda estou esperando. No mínimo, estamos num estado de negação."
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