Cidade de García Márquez rejeita mudar de nome para Macondo

Aracataca (Colômbia) – A vida não imitou a arte no último domingo, quando a cidade natal de Gabriel García Márquez, onde ele escutou pela primeira vez as histórias de fantasmas que seriam a base do "realismo mágico" de seus romances, rejeitou a proposta de mudar de nome em homenagem ao escritor.

Menos do que as 7.400 pessoas necessárias apareceram para um referendo, que foi sugerido pelo governo local para rebatizar a comunidade como Aracataca-Macondo.

Como sabem os fãs do Nobel de Literatura, Macondo é o nome da cidade ficcional de sua obra-prima, Cem Anos de Solidão. No livro, o município é um lugar onde tudo pode acontecer. Como chover durante quatro anos depois de um massacre de agricultores ou uma praga de insônia que não permite que os habitantes durmam.

Apesar de uma campanha publicitária para angariar apoio à sua idéia, o prefeito Pedro Sanchez não teve a mágica política necessária para a mudança de nome que, segundo ele, aumentaria o turismo nessa cidade de 53 mil habitantes, situada no norte da Colômbia.

Depois que as urnas fecharam, na noite de domingo, Sanchez disse que mais de 90 % dos votos depositados foram em favor da proposta. "Mas o comparecimento não foi grande o bastante para que a votação contasse", acrescentou.

"Sempre conheci esse lugar como Aracataca e isso é bom o bastante para mim", disse Manuel Almanza, de 27 anos, que conserta pneus furados à beira da cidade e nunca leu nada de "Gabo", como García Márquez é conhecido por aqui.

Mas os moradores concordam que a cidade precisa de melhoras. Mais de metade das ruas não são pavimentadas e quem procura diversão pode escolher entre as rinhas de galo ou assistir a uma cópia pirata do filme Poseidon exibida na televisão local.

García Márquez, de 79 anos, que vive no México e diz que Aracataca lhe forneceu a matéria bruta para sua ficção, mostrou-se neutro sobre a idéia de mudar o nome da cidade.

A casa de madeira onde ele nasceu e viveu com seus avós até os 10 anos de idade foi transformada em um museu. Foi ali que ele escutou as histórias de fantasma de sua avó supersticiosa, Tranquilina, que mais tarde virou personagem em seus romances.