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O bom filho à casa torna. Depois de percorrer 70 mil quilômetros para conhecer o interior do Brasil durante quatro anos – de 1999 a 2002, o fotógrafo Orlando Azevedo concentrou novamente o seu olhar sobre o Paraná, onde fincou raízes há 43 anos.

O Museu Oscar Niemeyer abre, amanhã, às 19 horas, uma mostra com 200 fotografias resultantes da Expedição Coração do Paraná, realizada pelo fotógrafo entre o final do ano passado e o início deste ano. "Considero o percurso que fizemos pelo Brasil inacabado, diante de tantos caminhos e temas a serem tratados", diz. Na nova expedição, Azevedo revisitou o interior do estado, que já conhece bem, a partir de uma perspectiva patrimonial e natural, ou seja, buscando "a paisagem no ser humano e o ser humano na paisagem".

O fotógrafo enfatiza que não há nada de ufanista em seu trabalho de conhecer as realidades e identidades do Paraná a partir de seu povo. Os retratos, em sua maioria em preto e branco, deixam transparecer o termo de cumplicidade que ele estabelece com seus personagens, uma interatividade entre autor, retratados e o público. Já na entrada da exposição, o visitante penetra em um túnel, chamado de "Olho no Olho", para se ver refletido em um espelho que o conduz a uma sala escura, onde será retratado. O próprio visitante anexa sua foto 3x4 em um grande mapa do Paraná, que ao final da mostra se constituirá em uma nova obra, o "Memorial da Identidade".

Açoriano de nascimento, tudo indicava que Orlando Azevedo teria uma profunda relação com o Brasil. Açores é uma ilha ladeada pelo Monte Brasil; ainda na infância, em Lisboa, o fotógrafo morava na Avenida Brasil. "Amo profundamente o Brasil, em toda a sua contradição", afirma. É esta contradição que Orlando Azevedo foi buscar desde o momento em que traçou sua trajetória pelo Paraná. "Existem dois Brasis: o do poder e o oculto, formado por pessoas que estão à margem da sociedade Para mim, este último é o Brasil verdadeiro", afirma. No primeiro ambiente da exposição, de nome "Saga", Azevedo arquitetou o que chama de "quase um parangolé" de imagens que se interligam. São retratos que revelam uma diversidade de tipos – índios, negros, brancos, monges, camelôs, prostitutas, incluindo figuras conhecidas como a de José Rico, da dupla sertaneja Milionário e José Rico. Para Azevedo, o Paraná precisa assu-mir a sua identidade caipira, que constatou ser muito mais forte do que se pensa. Por isso, escolheu como música de fundo de sua exposição composições do grupo Viola Quebrada.

Um outro ambiente da mostra, denominado "Casulo Tecido de Fé", apresenta fotografias que relacionam o interior das pessoas, a casa e o trabalho. Já "Celebração" retrata o lúdico por meio das 20 únicas imagens coloridas da exposição. O quarto ambiente é formado por imagens abstratas, uma interpretação subjetiva da viagem pelo próprio autor. "A fotografia nunca é real, é a cultura filtrada pelo olhar do fotógrafo", revela Azevedo. "Quando fotografo o outro, fotografo a mim mesmo. É uma forma de chegar mais perto do mistério da existência", conclui.

Serviço: Exposição Expedição Coração do Paraná. Museu Oscar Niemeyer (R. Mal. Hermes, 999), (41) 3350-4400. Abertura hoje, às 19 horas. De terça a domingo, das 10 às 18 horas. Preços: R$ 4 (adultos) e R$ 2 (estudantes) – crianças de até 12 anos, maiores de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas, do ensino médio e fundamental, agendados não pagam. Até 26 de outubro.

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