A escritora Marina Colasanti gosta de perambular pelo mundo à cata de material para seus escritos. "A viagem é sempre iniciática e traz o inesperado", disse, em entrevista recente ao Caderno G. Como ela, outros milhares de viajantes encaram a estrada em busca de objetivos nobres como crescimento espiritual e autoconhecimento ou pelo simples prazer de sair por aí para ver o mundo passar.

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Costuma-se dizer que as viagens mudam as pessoas. Pode ser. (Mas, nem a volta ao mundo em 80 dias de Júlio Verne consegue mudar alguns cabeças-duras, que provavelmente fariam paradas em to-das as "lojinhas", ao invés de investigar o "inesperado" de que fala Marina Colasanti). Alguns viajantes têm a capacidade de mudar as viagens. É o caso de alguns brasileiros célebres que relataram suas viagens em reportagens publicadas desde 1962 em revistas da Editora Abril, recentemente organizadas por Rodrigo Pereira no livro Inesquecível – Histórias de Viagem Contadas por Quem Sabe (Ediouro, R$39,90, 218 págs.). "Um texto de viagem que se preze precisa ter a capacidade mágica de transportar o leitor. E textos de viagem que se prezem são a razão de ser dessa coletânea", explica o jornalista Kiko Nogueira na apresentação. Ele é autor de um dos textos, "Cuba Compañeros!", que recebeu o Prêmio Abril de Jornalismo em 2004.

O escritor Paulo Coelho virou um novo homem quando decidiu "andarilhar" 800 quilômetros até Santiago de Compostela, à procura de seu "verdadeiro eu". Achou. De artista bicho-grilo, amigo de Raul Seixas, transformou-se em um milionário produtor em série de literatura esotérica, a partir do relato que fez de sua viagem (o best-seller Diário de um Mago, de 1987). Paulo Coelho conseguiu outro feito prodigioso: tornou o então esquecido Caminho de Santiago de Compostela uma meca de peregrinação que recebe milhões de visitantes todos os anos. Inesquecível traz uma reportagem de Flavia Varella, publicada na Revista Viagem e Turismo de março de 2004, em que o escritor narra sua experiência pelo Caminho.

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Porto Alegre seria outra sem Mario Quintana. Por isso, ninguém melhor do que o próprio poeta para escrever sobre ela, em texto publicado na Veja RS de 31 de julho de 1991. Por onde nos leva – das redações de jornal onde trabalhou aos botecos que freqüentou com amigos ilustres, ele nos conta deliciosos episódios de sua vida, prova do vínculo forte entre ele e a cidade. "Morei 13 anos no Hotel Majestic. Hoje a Casa de Cultura que leva o meu nome, e eu considero isso uma conquista da poesia no Rio Grande do Sul", conta.

No verão, a velha lady inglesa arranca suas inúmeras saias para revelar uma ousadíssima míni com par de botas negras e perversas. Tal lady é a própria Londres, que outro gaúcho ilustre, o cosmopolita Caio Fernando Abreu, revela em todas as suas cores para o leitor em "A velha senhora que vira punk", texto publicado na Revista Exame VIP de fevereiro de 2002. Cores exóticas que ele provavelmente deve ter extraído das cabeleiras roxas, verdes e vermelhas dos punks desta cidade, que disputam as ruas com uma multiplicida-de de estilos. "Os mais estrangeiros em Londres são os próprios ingleses.

Luís Fernando Veríssimo é o cicerone bonachão que passeia pelas ruas de Paris, em um dos textos mais saborosos, publicado na Revista VIP de abril de 1991. O escritor ignora com bom-humor a desgastada imagem de glamour associada à cidade-luz. "O Centro Pompidou já foi descrito como o Mausoléu do Robocop e a reação das pessoas quando vêem pela primeira vez varia do "Que legal!" ao vômito", diz, em uma de suas várias frases impagáveis.