Cinema
Confira informações deste e de outros filmes no Guia JL.
Nem Avatar nem Titanic. O filme de maior bilheteria na história do Ceará não veio de Hollywood. Ironicamente, se chama Cine Holliúdy e foi realizado, com o modesto orçamento de R$ 1 milhão, lá mesmo, pelo cineasta Halder Gomes, que não sabe ainda se o longa-metragem chegará ao Sul do Brasil, embora haja a intenção de lançá-lo em Curitiba ainda em dezembro. "Depende de como o filme for de público no Rio e em São Paulo, onde entrou em cartaz semana passada."
Desde a sua estreia, em 9 de agosto, o longa-metragem levou 286 mil cearenses às salas de exibição de Fortaleza e das quatro outras cidades do estado nordestino, onde ainda há salas de exibição: Sobral, Limoeiro do Norte, Maracanaú e Caucaia, as duas últimas na região metropolitana de Fortaleza.
Gomes estima que entre 10 e 12% da população da capital cearense, onde o filme permanece em cartaz há quatro meses, tenha visto Cine Holliúdy, que se tornou um fenômeno cultural, levando famílias inteiras aos cinemas e transformando tanto o diretor quanto os atores em celebridades locais.
Em outras cidades do Nordeste, mas também do Norte e Centro-Oeste, o longa fez bonito. Até segunda-feira passada, já havia acumulado um público de 463 mil pagantes, já incluindo aí os espectadores que foram assistir ao filme em cidades do Sudeste, onde a produção teve de brigar com pesos pesados gringos, como Thor O Mundo Sombrio e Jogos Vorazes: Em Chamas, que ocupam sozinhos 1.720 salas, bem mais do que a metade do circuito exibidor brasileiro (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).
Gomes contou, por telefone, à reportagem da Gazeta do Povo que, no Rio e em São Paulo, Cine Holliúdy teve maior público em salas do chamado cinema cult, autoral, frequentado por espectadores que leem jornais e já sabiam da enorme repercussão do longa no Ceará e no resto do Nordeste. "Como é um filme pequeno, de baixo orçamento, não temos recursos para investir em publicidade e marketing, e apostamos sobretudo no boca a boca. Fica difícil atingir o grande público assim."
Uma pena, porque Cine Holliúdy é, em essência, uma obra de cinema popular, para as massas. Na trama, Francisgleydsson, um homem simples, vivido pelo ator Edmilson Filho, sonha em montar um cinema em uma cidadezinha do interior cearense durante os anos 1970, quando o público deixava de prestigiar os filmes na tela grande para aderir em massa ao potencial hipnotizador da televisão.
O protagonista e sua família lutam para manter viva a sétima arte com suas películas e seu projetor já capenga, em busca de cidades que ainda não foram invadidas pelo temido televisor. Tem um quê de Cinema Paradiso, clássico do diretor italiano Giuseppe Tornatore.
Um dos aspectos que mais chamou atenção, e foi corresponsável pela enorme empatia gerada pelo filme no seu estado de origem, foram os diálogos, muito engraçados, falados em "cearencês". Gomes, no entanto, não crê que toda essa regionalidade impeça o longa de se comunicar com outras plateias.
Cine Holliúdy já foi exibido, com boa recepção, em festivais internacionais, em países tão diversos quanto Portugal, Tailândia e Canadá, onde recebeu o prêmio de melhor longa-metragem de ficção do júri popular do Brazilian Film and Television Festival of Toronto. "Acho que ele conta uma história universal de sonho, luta e superação, com a qual todos se identificam um pouco", explica o cineasta, que diz entender as comparações de seu filme com as comédias ingênuas de Mazzaropi e do conterrâneo Renato Aragão, mas não vê tantas semelhanças assim entre Cine Holliúdy e os filmes desses astros do cinema popular nacional.
Gomes, que também dirigiu o longa espírita As Mães de Chico Xavier (2012), já está em fase de preparação de dois outros longas que pretende dirigir, O Shaolin do Sertão, no qual revisita as artes marciais, outro ingrediente que fez sucesso em Cine Holliúdy, cuja sequência também está a caminho, promete o diretor.
Deixe sua opinião