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Odorico: ele sim sabe das coisas. | Divulgação
Odorico: ele sim sabe das coisas.| Foto: Divulgação
  • Guel Arraes: prata da casa

Recife - Na versão para o cinema de O Bem Amado (confira fotos e trailler), é Marco Nanini quem profere o discurso empolado que o prefeito Odorico Paraguaçu usa para camuflar suas picaretagens na administração da cidade de Sucupira. Sem roubar o ar provinciano ao cenário da peça escrita por Dias Gomes em 1962, Guel Arraes quis fazer um filme atual, e entendeu que para isso seria necessário abaixar o tom de coronelismo em favor de uma politicagem mais contemporânea, embora igualmente corrupta, adepta de promessas de campanha oportunistas, obras superfaturadas e demais relações corrompidas.

O longa-metragem foi exibido pela primeira vez em público na abertura do 14º Cine PE Festival do Audiovisual, na última segunda-feira à noite, com preocupação redobrada para que ninguém na plateia de quase três mil lugares registrasse imagens que pudessem gerar cópias falsificadas. Aos cinemas, o filme só deve chegar no dia 23 de julho. E não deve demorar muito para retornar à tevê, onde marcou época em duas ocasiões tendo Paulo Gracindo como pro­­tagonista.

As irmãs Cajazeira são interpretadas agora por um trio mais jovem, de furor sexual crescente, que cabe a Odorico apaziguar: Zezé Polessa, Andréa Beltrão e Drica Moraes. Dentro da sátira à elite brasileira, que é como Arraes enxerga a obra, as três cumprem a missão de alfinetar as socialites que existem por aí. Matheus Nachtergaele vive Dirceu Borboleta, o assexuado assistente do prefeito. E José Wilker faz um Zeca Diabo me­­nos capiau do que o de Lima Duarte e mais identificado ao sobrenome que adotou. Todos encarnam tipos caricatos, de um humor histriônico no lugar do realismo popularizado nas versões televisivas.

O texto de tiradas inteligentes sobrevive, mas exige fôlego para não sucumbir na pressa do estilo Guel Arraes de dirigir. Na coletiva de imprensa realizada ontem, o elenco e o diretor negaram qualquer inspiração no passado. Tanto Marco Nanini quanto Miguel Arraes disseram inclusive não ter assistido à novela nem à minissérie anteriores. O trabalho dos dois em cima do texto seguiu outra rota. Partiu de uma montagem de O Bem Amado para o teatro, que Nanini protagonizou em 2007, com a participação das Companhia dos Atores e direção de Enrique Diaz. "Fiquei com esse personagem pairando na minha cabeça e resolvi tirar esse fantasma", conta Nanini.

"Comprei os direitos da peça e o Guel me ajudou na montagem. A gente foi descobrindo ali na prática diária o que seria." O ator diz que teve dificuldade de início para compor o personagem. "Cheguei no ensaio geral sem saber exatamente que caminho seguir." Foi pelo farsesco. "A peça é uma farsa, procurei usar alguns tons adaptando para o cinema pa­­ra não exagerar muito. A máscara de político que vejo na tevê muitas vezes depois de escândalos é muito dramática, com emoções que parecem verdadeiras."

Filmando ao mesmo tempo para o cinema e a tevê, Guel Ar­­raes repete recursos de linguagem que mostrou anteriormente em produções como O Auto da Compadecida, imprimindo um ritmo acelerado às ações – mal dá tempo para que uma cena aconteça antes da próxima se impor, num desencadeamento afobado – ; ou à fala ingênua da mocinha romântica, como se ouve em maior medida em Lisbela e o Prisioneiro.

A de agora é Violeta, a filha do prefeito, papel de Maria Flor. Ela contracena com Caio Blat, em um relacionamento ao qual não é dado tempo de maturação e de envolvimento maior. O papel dele é o de um jornalista honesto, responsável.

*A jornalista viajou a convite do festival.

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