São Paulo - O aspecto mais interessante do novo cinema coreano é a maneira como seus diretores reciclam o cinema de gênero, isto é, como introduzem uma visão original em fórmulas aparentemente batidas.
De certa maneira, é uma versão pós-moderna do cinema, que toma os elementos tradicionais, joga-os numa coqueteleira contemporânea e os faz aparecer em outra roupagem. Não se trata de um exercício gratuito, como se poderia pensar.
Há, de fato, inovação e vontade de conseguir algo novo por meio desse exercício antropofágico, num tempo em que tudo parece que já foi dito e mostrado de todos os ângulos possíveis. Essas ideias estão ilustradas perfeitamente em Sede de Sangue, de Park Chan-wook, um dos cineastas mais criativos dessa nova onda coreana.
Por exemplo, temos aí, de fato, uma pessoa que se contamina com um estranho micróbio e vira um vampiro, quer dizer, um daqueles seres que se alimentam de sangue, apresentam força descomunal e temem a luz do dia. Acontece que o vampiro em questão é um padre católico, aliás, muito caridoso, que vai para uma região contaminada e contrai o vírus fatal.
Sede de Sangue, ao contrário do que sugere o título, não abusa de hectolitros de sangue cenográfico, nem o atira nas fuças do espectador da primeira fila. Há cenas sanguinolentas, sim, mas elas aparecem na medida em que se fazem necessárias à trama.
Além do sangue, há muito sexo, também sem qualquer gratuidade, pois a intensificação dos sentidos faz parte das transformações pelas quais passa o sacerdote.
Na maneira como Chan-wook trata imagens e som, seus filmes apresentam uma espécie de saturação sensorial, que visa, com certeza, a tirar o espectador da sua passividade rotineira. Recurso antigo, pode-se dizer. Sim, mas nesse filme, como em outros de sua autoria, como Lady Vingança e Oldboy, tudo é antigo e tudo é novo ao mesmo tempo.
Queridinho em festivais, faz também sucesso em seu país, um dos poucos que conseguem enfrentar em seu território a invasão do cinema de Hollywood. Chan-wook e seus colegas conseguem tocar fundo a corda de interesse do espectador coreano. Essa sintonia é um aspecto a ser levado em conta quando se avalia o cinema da Coreia do Sul.