
Longas-metragens no Canal Brasil
Para homenagear Ozualdo Candeias, o Canal Brasil (TVA, NET) alterou a grade de programação para incluir três longas-metragens do diretor. Na segunda-feira, dia 12 de fevereiro, a emissora exibe o documentário Candeias Da Boca pra Fora, à 0h30, para prosseguir, à 0h45, com a transmissão de Trilogia do Terror . Na terça e quarta-feira, também à 0h30, o canal mostra os longas-metragens Caçada Sangrenta e A Freira e a Tortura.
Filmografia como diretor
O Vigilante (1992) As Belas da Billings (1987) A Freira e a Tortura (1983) Manelão, o Caçador de Orelhas (1982) A Opção (1981) As Mulheres do Sexo Violento (1976) Caçada Sangrenta (1974) Zézero (1974) A Herança (1970) Meu Nome É Tonho (1969) O Acordo em Trilogia de Terror (1968) A Margem (1967)
Ozualdo Candeias morreu na tarde de anteontem, no Hospital Brigadeiro, em São Paulo, vítima de insuficiência respiratória. Ele será lembrado como um cineasta formado, antes de tudo, pela vida. "Desde moleque, eu nunca quis ser nada", dizia.
Deixou que a vida o levasse.
Nascido em Cajubi (SP), foi office-boy, lustrador de móveis, metalúrgico criador de cavalos em Mato Grosso e sargento da Aeronáutica. Chegou ao cinema depois de comprar uma câmera 16 milímetros e livros sobre técnica cinematográfica. O primeiro curta-metragem foi Tambau Cidade dos Milagres, de 1955. O primeiro longa, A Margem, tornou-se um dos mais emblemáticos entre os filmes da chamada Boca do Lixo expressão cunhada por uma crônica policial para descrever a região de prostituição entre as avenidas Rio Branco e Duque de Caxias, em São Paulo.
Candeias não gostava do bom gosto e filmava com liberdade. Abria os olhos para os tipos populares e marginalizados, a experiência e intuição sempre precedendo a razão. Tornou-se referência para cineastas malditos como Rogério Sganzerla, José Mojica Marins e Carlos Reichenbach. Adaptou Hamlet, de Shakespeare, sob o título de A Herança, sem diálogos, com temas e ambientação brasileiros e tocadores de viola fazendo vezes de coro.
O Vigilante foi seu último longa. Candeias viajou de motocicleta até Brasília por conta da estréia, em 1992. O filme fala de bóias-frias que tentam a vida na cidade grande. Caem na periferia em que impera a lei do cão. Um deles se torna vigilante de uma empresa e descobre logo em seguida que pode trabalhar melhor por conta própria torna-se justiceiro. Já em Manelão, um fazendeiro ajuda o protagonista a curar de uma doença venérea e em troca exige que ele se torne pistoleiro.
Com José Mojica Marins, o Zé do Caixão, dirigiu Trilogia de Terror, composta por três contos. O de Candeias era O Acordo, sobre um pacto demoníaco em que uma mãe entrega sua filha virgem ao Diabo. Voltou a trabalhar com Marins em Ritual de Sádicos. Também foi amigo e colaborou com profissionais envolvidos com o cinema como João Silvério Trevisan, David Cardoso, Rubem Biáfora e Valêncio Xavier.
A ditadura não se deixou iludir pelo aparente caráter ingênuo de alguns filmes e os proibiu. Foi o caso de Caçada Sangrenta, de 1973. Médias-metragens como Zezéro e Candinho iam a contrapelo da euforia fictícia do governo militar e tiveram circulação quase clandestina, subterrânea.
Memórias
O Centro Cultural Banco do Brasil lançou recentemente um catálogo sobre o cineasta, com amplo registros fotográficos e ensaios. Na internet, a revista eletrônica Contracampo mantém dossiê extenso sobre Candeias, incluindo entrevistas, transcrições de roteiros e depoimentos de pessoas próximas.
A morte repercutiu rapidamente na internet. O crítico de cinema Inácio Araújo, assistente do diretor em A Herança relata em seu blog sua experiência. "De fato, o que eu fiz foi assistir a filmagem. Ou melhor: teve o dia em que eu me pus a dizer a ele que ele podia ter dirigido uma seqüência de tal modo, e não como fizera. Ele virou pra mim e disse: Olha, falar é fácil, fazer é outra coisa". Araújo relembra de Candeias como uma cineasta autônomo que fazia tudo câmera, fotografia, roteiro e direção. "Trabalhava com os piores atores do mundo e conseguia, pelos movimentos de câmera, esconder defeitos e revelar qualidades. Isso o tornou um tanto auto-suficiente", escreve.
Em Curitiba, Candeias se envolveu profundamente com a antiga Cinemateca do Museu Guido Viaro. Foi trazido para dar cursos e debater cinema pelo fundador da instituição, Valêncio Xavier.
"Ele foi um dos primeiros a assumir a Cinemateca de Curitiba como uma entidade importante para o cinema brasileiro. Ele foi um grande benfeitor, vinha dar cursos quase de graça, e doou muitos de seus filmes para o acervo", relembra o crítico e atual diretor da Cinemateca de Curitiba, Francisco Alves dos Santos. À época, Alves entrevistou o cineasta para o seu livro Cinema Brasilero 1975. "Candeias era um pessoa calma, da intuição. Veio do povo e não teve estudos da grande teoria do cinema. Mas é so olhar para A Margem para perceber o talento que fica de igual para os maiores do cinema. Um gênio", avalia.
Valêncio Xavier chorou quando soube da morte do amigo. "Ele era um amigo próximo, não só meu como de toda minha família. O que posso dizer? Ele era um gênio. Abalou-me muito. Chorei", afirma. Xavier recorda como freqüentava o apartamento do amigo em São Paulo e como Candeias era seu visitante freqüente em Curitiba. "Um vez, vindo para cá, ele parou em uma estrada. Ficou lá, observando as pessoas, de preferência moças. E filmava", conta.
A Cinemateca de Curitiba tentou trazer o cineasta para apresentar seu filme A Margem em dezembro de 2006 na sessão Clássicos do Cinema Brasileiro, organizada por Geraldo Pioli. Candeias já estava doente e não conseguiu comparecer. O acervo da Cinemateca guarda algumas raridades do diretor, como o filme Avistando Velho Senhor, baseado em um texto de Poty Lazarotto, além de outras produções rodadas em Curitiba. Alves pretende fazer um programação especial para homenagear o cineasta.
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