As coisas estão diferentes na edição 2009 do Festival de Cinema Sundance.
Durante a maior parte das duas últimas décadas, o maior evento do cinema independente nos EUA, que começa nesta quinta-feira, tem sido repleto de dramas sombrios sobre o lado obscuro da natureza humana. Este ano, porém, em meio à situação sombria da economia na vida real, os organizadores de Sundance prometem filmes de vários tipos -- alguns deles acompanhados de muitas gargalhadas.
Jim Carrey vai levar ao festival I Love You Philip Morris, em que representa um vigarista que se apaixona por um detento de uma prisão (Ewan McGregor). A ex-atriz de "Saturday Night Live" Amy Poehler será vista em Spring Breakdown, sobre mulheres que se aproximam dos 40 e se divertem com festas malucas durante as férias escolares da primavera.
Um dos filmes mais comentados antes do início do festival é 500 Days of Summer, do diretor Marc Webb, e os irmãos Mark e Michael Polish, veteranos de Sundance, estão levando ao festival o filme Manure (Esterco), sobre um homem que vende... Bem, o título já diz tudo.
"O título tira todo o poder dos críticos," disse Michael Polish, brincando que os críticos não poderão reduzir seu filme a uma mera porcaria, já que, afinal, é disso que ele trata.
Deixando o humor de lado, a ironia presente em Sundance 2009 está na tendência dos últimos anos de o cinema americano dito "independente" ter sido dominado por divisões de estúdios de Hollywood, como a Fox Searchlight, uma unidade da 20th Century Fox, que procuram filmes capazes de atrair a um público grande, para garantir o máximo em termos de bilheteria.
Quem quiser a prova disso só precisa pensar em Pequena Miss Sunshine (2006) e Napoleon Dynamite (2004), ambos sucessos que se fizeram em Sundance.
Mesmo assim, o festival do Estado do Utah patrocinado pelo Instituto Sundance, do ator Robert Redford, ainda é um lugar em que estilos diferentes de fazer cinema ganham o apoio dos organizadores e onde cineastas pouco conhecidos procuram ganhar destaque no mundo cinematográfico.
"Há espaço para a descoberta de novos talentos, sem dúvida", disse Frank Wuliger, sócio da firma de talentos de Los Angeles The Gersh Agency, que representa a cineasta Katherine Dieckman e seu filme "Motherhood", estrelado por Uma Thurman e que será exibido no festival.
PAISAGEM INDEPENDENTE EXTENSA
O festival começa com a première da animação com figuras feitas de argila "Mary and Max", que conta a história de uma amizade de 20 anos entre uma jovem australiana e um homem nova-iorquino, desenvolvido através de uma troca de cartas.
O diretor de Sundance, Geoffrey Gilmore, disse que o filme é um bom exemplo das mudanças na paisagem do cinema independente. Utiliza alta tecnologia, algo que até poucos anos atrás era incomum, trata de relações humanas mas mantém intacto seu senso de humor, e aponta para a globalização do cinema.
"Estou emocionado e apavorado ao mesmo tempo", disse o diretor australiano Adam Elliot, falando de "Mary and Max", seu trabalho de estréia. "Surgiu muito hype em torno do filme, mas eu fico lembrando às pessoas que na realidade ninguém o viu ainda."
Mas Elliot espera que as pessoas gostem do filme que levou cinco anos para fazer, e seu otimismo parece apropriado este ano.
Vender ingressos de cinema foi difícil no ano passado para títulos de sucesso em Sundance como "Hamlet 2", e várias empresas independentes -- a Paramount Vantage, a Warner Independent Pictures e a Picturehouse -- deixaram de existir ou mudaram radicalmente seus planos econômicos.
Devido à recessão, os diretores de estúdios e outros executivos de cinema dizem que vão levar menos profissionais a Sundance neste ano, talvez até 10 por cento menos.
Tudo isso soa sombrio, mas os frequentadores do festival parecem ter a esperança de que as coisas melhorem. E eles apontam para o evento que talvez seja o mais assistido neste ano, que nem sequer é um filme. Não -- os ingressos mais procurados na cidade este ano são para as festas que vão acompanhar a posse de Barack Obama.
"Há otimismo político no ar, e isso está ajudando", disse Polish. "A economia afeta o público do cinema. As pessoas querem uma fuga."
E há poucos lugares melhores para isso, como aprenderam executivos do cinema em recessões passadas, que numa sala de cinema.
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