Investir R$ 5 milhões em um negócio não é para muitos e talvez pareça arriscado demais. Mas, se já no primeiro fim de semana o retorno é de R$ 3 milhões, a coisa começa a mudar de figura. É exatamente esse o caso de Se Eu Fosse Você, filme de Daniel Filho, produzido em parceria com a Globo Filmes. Apesar da boa rentabilidade, o filme é um exemplo da atual dependência que o cinema nacional continua tendo do poder público. Para ser produzido, levou dinheiro de um edital da Petrobrás, que prevê até R$ 1 milhão por longa-metragem. Além disso, os produtores conseguiram autorização da Ancine, Agência Nacional do Cinema, para obter recursos de renúncia fiscal para o filme. Ou seja, as empresas que aparecem como patrocinadoras do projeto só enfiaram a mão no bolso para tirar dinheiro que, de qualquer maneira, seria gasto com impostos.
O exemplo serve para mostrar que mesmo os filmes brasileiros mais bem-sucedidos só saem do papel se contarem com o meu, o seu, o nosso dinheiro. E dá uma idéia dos reais motivos que levaram a classe de produtores de cinema a pedir a cabeça de gente dentro do Ministério da Cultura, durante uma polêmica que teve abaixo-assinado de um lado e de outro e que até conseguiu colocar de lados opostos os eternos amigos baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso. No fundo, os cineastas apoiados por Caetano estão estrilando porque querem garantir o acesso ao dinheiro público, para tocarem seus projetos. De outro lado, os assessores de Gil dão a entender que projetos com grande potencial comercial não podem ficar com todo o dinheiro público, que também deveria servir para produção de filmes de baixo orçamento e sem chance de grande arrecadação.
"Os grandes produtores de cinema do Rio de Janeiro continuam tão dependentes do governo quanto o pequeno cineasta do Acre", afirma o secretário nacional de Audiovisual, Orlando Senna. Responsável pela área de cinema no Ministério da Cultura, ele é um dos articuladores da política de descentralização do governo federal um dos reais motivos da gritaria dos cineastas contra a pasta de Gil. A política envolve o uso de editais para a seleção de projetos que serão financiados. Com isso, o governo pretendia acabar com o que os petistas consideravam privilégios a grandes produtores. "Quase toda a verba ia para umas poucas empresas do Rio de Janeiro", diz Senna.
Luiz Carlos Barreto, o homem por trás de sucessos como Dona Flor e Seus Dois Maridos e O Quatrilho é o principal produtor a se levantar contra o ministério. Ele diz que a política é um engodo. Afirma que em todos os países existem lugares que centralizam a produção de filmes. Hollywood faz quase tudo no cinema dos EUA, por exemplo. Com isso, pretende demonstrar que o melhor caminho é mesmo investir na produção do eixo Rio-São Paulo. Fomentando grandes sucessos, o ministério estaria levando adiante o cinema nacional.
Para Senna, o que seria necessário é uma maior independência dos cineastas. Ele lembra uma declaração do próprio Barreto à imprensa depois da polêmica, dizendo que pretendia fazer filmes de qualquer maneira, mesmo que não conseguisse recursos públicos. "Seria um grande passo e um ótimo exemplo para os outros produtores", afirma Senna. Embora ele mesmo admita que seria difícil conseguir fazer filmes no país somente com o apoio da iniciativa privada. Mas o caminho, ao que tudo indica, leva a uma independência maior nos próximos anos.
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