Às 18 horas de anteontem, cerca de 60 pessoas saíram da casa número 100 da Rua Ceará, em Curitiba, rumo a Piraquara. Depois de 40 minutos de viagem e algumas lombadas, as vans adentraram uma passagem estreita que leva até a igreja de São Roque. A construção contemporânea foi o local escolhido pelos cinestas Beto Carminatti e Pedro Merege para a filmagem de algumas cenas noturnas do longa-metragem Mistéryos.
Foi preciso acomodar cerca de 20 figurantes, lidar com cabos que pareciam infinitos, montar suportes de luz, colocar gelatinas, aplicar filtros, posicionar os trilhos, abrir os tripés, entre mais algumas centenas de detalhes minuciosos que exige uma produção de grande porte. Apenas às 22h30 os cineastas começaram a ensaiar as cenas e discutir o trabalho com o ator principal. O veterano Carlos Vereza (que viveu o escritor Graciliano Ramos em Memórias do Cárcere) teve de ir e voltar algumas vezes diante da igreja e sua grande porta, uma de tantas presentes em Mistéryos.
"É o momento da porta das três velas, um motivo recorrente e fio condutor do filme, em que o personagem interpretado por Vereza entra e se encontra com um cego que fala passagens proféticas", descreve Carminatti. A ação pertence ao "Mistério Números", um dos quatro contos de Valêncio Xavier que compõem o roteiro do filme, assinado pelos diretores em conjunto com Monica Rischbieter e Gil Baroni (também produtores) e José Rubens Siqueira. Outros são o "Mistério da Porta Aberta", "Mistério no Trem Fantasma" e o "Mistério Sapho: O Amor entre as Mulheres", todos publicados em O Mez da Grippe.
"O Mistério da Porta Aberta é o portal de acesso a outros mistérios e é o elo entre as diferentes histórias o personagem diante de uma porta entreaberta e a dúvida dele sobre o que haverá adiante daquela porta", conta Merege.
Recursos
A câmera montada em um trilho que seguiu Vereza era dotada de lentes anamórficas, em uma das poucas vezes em que a tecnologia foi usada no Brasil. "A gente está trazendo para o Brasil, e talvez para a América Latina, uma nova geração de lentes anamórficas que tem como diferencial a capacidade de filmar com pouca luz", explica Merege. A lente anamórfica comprime na largura de um filme 35mm uma imagem muito mais larga que a usual. O recurso pode ser visto nos westerns spaghetti dirigidos por Sergio Leone, que utilizava o formato para explorar as extremidades da imagem.
"O uso dessas lentes possui uma razão dramatúrgica, que é trabalhar com mais expressividade toda a composição da cena do ponto de vista da direção de arte e do ator", afirma Carminatti.
A intenção é buscar referências expressionistas para imprimir uma sensação de fantasmagoria nas imagens, dentro do que os cineastas descrevem como um "estado de suspensão". "Não é suspense, porque não estamos fazendo filme de gênero, mas um cinema que trate a imagem de forma real, fazendo com que o espectador veja o filme em estado de suspensão", continua o diretor.
Nas palavras de Pedro Merge, a proposta "é colocar imaginário, imaginação, memória e criações mentais como imagens reais". "A gente quer circular muito em torno das verdade e das mentiras, não de um ponto de vista moral, mas do ponto de vista de um cinema de invenção", reitera Carminatti.
A direção de fotografia propriemante dita coube a Alziro Barbosa, premiado por seu desempenho no curta-metragem O Mistério da Japonesa, também de Merege e Carminatti, baseado em outro conto de O Mez da Grippe.
Os cineastas também elogiam o profissionalismo e desempenho do elenco jovem, que inclui os globais Sthefany Brito e Leonardo Miggiorin, além de paranenses como Marco Zeni, Janaína Spoladore e a veterana Lala Schneider.
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