Era uma Vez Eu, Verônica, filme do cineasta pernambucano Marcelo Gomes (de Cinema, Aspirinas e Urubus), recém-lançado em DVD sem ter sido exibido nas telas curitibanas, é um inspirado estudo sobre o universo feminino, encarnado pela personagem-título, vivida pela estrela recifense Hermila Guedes, revelada em O Céu de Suely, de Karim Aïnouz.
Verônica é uma médica que acaba de concluir sua residência em psiquiatria e começa a trabalhar em um hospital público na capital de Pernambuco. O contato com dezenas de pacientes, muitos com histórias bastante complicadas, como é de se esperar, faz com que a personagem comece a repensar suas opções e sua própria vida.
A jovem mora em Recife com o pai viúvo, vivido pelo excelente veterano W. J. Solha (o patriarca de O Som ao Redor), que sofre de uma doença terminal, e de quem é muito próxima. A constatação de finitude e da dor dos outros forçam Verônica, aos poucos, a começar a olhar para si mesma. E a perceber as suas limitações. Tanto que registra, todos os dias, em um gravador digital, depoimentos pessoais, falando do que está sentindo e pensando, como se fosse uma paciente, na tentativa de entender, por exemplo, por que não consegue levar qualquer relacionamento amoroso mais a sério.
Vencedor do prêmio de melhor filme no último Festival Brasília, em empate com Eles Voltam, de Marcelo Lordello, Era Uma Vez Eu, Verônica reafirma a vitalidade do cinema pernambucano atual. Como outro conterrâneo muito premiado em festivais, O Som ao Redor, de Kléber Mendonça Filho, o filme de Gomes também toma como foco o cotidiano de personagens da classe média brasileira, o diálogo que mantêm com a realidade que as cerca, algo pouco frequente no chamado cinema nacional contemporâneo.
Graças a um roteiro que dá atenção a pequenos detalhes subjetivos e a uma atuação inspirada de Hermila Guedes, Era Uma Vez Eu, Verônica é um dos raros filmes nacionais contemporâneos a focar especificamente na subjetividade da mulher, lidando com uma personagem que tem complexidade e empatia, mas não resvala no excesso de querer conquistar o público pela beleza, pela sensualidade ou mesmo pela simpatia excessiva. GGG1/2
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